Os Verdes das Tardes de Outono - Yara Mourão

 





Os verdes das tardes de outono

Yara Mourão

 

Eles se estendem pelo chão entremeando as pedras e raízes, numa busca pelo brilho tépido que se desprende do céu.

Não parece se precipitarem do solo numa ânsia de vivificarem, mas têm toda a dormência da natureza que se oferece, bela e serena, à contemplação do nosso olhar.

Esses verdes ensolarados me remetem à infância; aos passeios nos parques, nas alamedas sombreadas dos bairros tranquilos. E ainda aos pátios dos conventos, tão reclusos e inatingíveis como aquelas freiras que por ali passam cantando litanias.

Esses verdes ensolarados têm também a paz dos túmulos; onde se pode contemplar o solo úmido, sob o qual dormem, para sempre, nossos amores idos, nossos inesquecíveis ancestrais: os bisavós estrangeiros, os avós queridos, os pais e irmãos insubstituíveis...

Esses verdes trazem os sons dos poemas, e deles emanam a inspiração das músicas dos grandes mestres, das aquarelas dos pintores românticos, tudo que toca a alma em sua essência mais pura.

Esses verdes ensolarados das tardes de outono carregam um passado pleno e um temor futuro; de que um inverno virá, e tudo será diferente. A paisagem será outra, a vida será outra.

Mas eu, eu permanecerei a mesma, esperando sempre pelo tempo em que a beleza ressurgirá, ainda que efêmera, a alegrar a vida sobre a terra.

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