Para um velho Amigo - Maria Luiza C. Malina



Para um velho Amigo
Maria Luiza C. Malina


Na infância surgem os primeiros amigos. Amigos que te acompanham, que se distanciam, amigos que nunca foram amigos, ou que pela caprichosa magia do destino um dia se encontrarão.

Tenho um velho e bom Amigo da infância, muitos ganhei, muitos emprestei, perdi e depois durante toda uma vida comprei. Comprei tantos que se tornaram objeto alucinado de desejo.

Desejo este de comprar, pelo prazer de comprar as lembranças escondidas numa caixa da infância, caixa  que se abre e exala seu cheiro precioso que provoca inveja as flores, remetendo o tempo que continua dentro de mim, convivendo num mundo de conflitos exteriores que te faz cada vez mais se apegar a este velho  Amigo confidente que aceita tudo sem qualquer discriminação.

Preciso de Você, porque gosto do ato de te tomar entre os dedos, de te apertar, muito te levei  boca, por um momento de indecisão, medo, distração, ou numa escrita nervosa ou apressada em que Você obedece, navegando pelas folhas em branco, com rabiscos incompreensíveis que te convida a continuar entre os nuances que a vida que te apresenta sem que Você se entristeça. Apenas Aceita.

Você se esgota de tanto se dar, mas lá estou eu te dando forcas para continuar ate que sua vida útil chegue ao fim. Caixinhas cheias de Você tão gasto, mas com seu cheiro de vida estão entre as minhas caixinhas especiais sem coragem de descartar ou colocar num quadro, Você já virou ate bandeja!

Hoje, com seu traje de madeira e alma de grafite, um lixo qualquer não é mais seu lugar.  Você se tornou um lápis-semente com identidade “Sprout”.

Na sua ponta, tão levada à boca, são encapsuladas sementes diversas, como alecrim, tomate, salsa, margarida. Apesar da existência de uma inteligência na sua ponta oposta Você não reconhece a diferença entre e água intencional ou acidental, mas não é sua culpa e sim dos inventores. Assim, Você esta mais uma vez ensinando que LAPIS não foi feito para morder.

Não quero aceitar lapiseiras, vou continuar com meu Amigo confidente, sem toca-lo com os meus lábios.



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