Lembranças
da Escola.
Sérgio
Dalla Vecchia
Grupo
Escolar Érico de Abreu Sodré, inaugurado há duas quadras da nossa casa na Rua Luiz
Góes. Ano esse que coincidiu com a idade apta para se ingressar na Escola
Primária na época.
Pérsio
e eu somos irmãos gêmeos univitelinos, portanto, juntos fomos matriculados
naquele Grupo novinho em folha.
A
emoção foi grande para os nossos poucos sete anos.
Primeiro
contato com os colegas, a professora Alcione, a cartilha de alfabetização
Caminho Suave, a merenda e tantas outras novidades. Enfim, um novo mundo
surgiu!
Nesse
período de adaptação, algumas crianças sentiram o impacto do inusitado,
disciplina, ordem e tarefas a se cumprir. Daí surgiam choros, birras e outras
manifestações. Assim, aflorou no meu irmão uma reação de insegurança. Ele não
conteve a emoção e a descarregou nas próprias calças. Era cocô mesmo!
A
diretora atenciosa tomou as providências e nós fomos para casa! Pérsio,
envergonhado, cabisbaixo, me segurou e, de mãos dadas, lá fomos nós para os
braços seguros da Mamãe Yvette. Os dois choravam, ele pelo cocô e eu por
solidariedade, mas nada que um abraço caloroso de mãe e um bom banho não
curasse.
Eu
me senti um herói pela segurança que lhe ofereci, escoltando-o pela Rua
Acarapé.
Esse
fato ocorreu só uma vez, pois ele logo entendeu a nova vida e a aceitou
tranquilamente.
Assim,
tudo se acomodou e o aprendizado ia muito bem, éramos bons alunos.
Vieram
as esperadas férias de julho e a família foi para a fazenda do vô Chico, no
município de Ibitinga.
Era
só alegria, passeios a cavalo, mergulhos no poção, ordenha das vacas, leite
purinho na hora, laranjas no pé e gomos de cana-de-açúcar para mascar.
Tudo
ótimo, mas acabaram-se as férias.
Saída
de madrugada, vô Chico e vó Maria emocionados no portão nos acenando, e o Ford 51
partiu para a jornada de quase seis horas, com direito à estrada de terra e
suas sequelas.
Enfim,
São Paulo!
Jururus,
seguimos para a Escola logo no dia seguinte. Flashes das férias ainda pipocavam
nossas mentes.
Ocorreu
que, no auge da aula, uma angústia incontrolável me envolveu e cresceu a cada
segundo até extravasar em lágrimas.
Envergonhado
diante dos colegas, debrucei-me sobre a carteira escolar. Surgiram soluços e
logo a professora me acudiu, dirigindo-me à diretoria.
Serenado
com as palavras carinhosas da diretora, fui contendo o choro até que ela, em
momento propício me indagou:
—
Por que você está tão triste, Sérgio? Pode desabafar comigo, querido!
Ainda
melancólico, encarei, foquei firme os olhos dela, criei coragem e lasquei o
verbo:
—
Saudades de Ibitinga!
Lá
se foram os gêmeos de mãos dadas outra vez para casa.
Pelo
menos dessa vez, sem cocô, somente lágrimas.
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