DETETIVE APOSENTADO
Antonia Marchesin Gonçalves
Silvio estava inconformado por ter que se aposentar, mesmo após quarenta e cinco anos de intensas atividades.
Recém-aposentado, decidiu mudar-se para a sua casinha na praia de São Vicente. Recentemente, perdera a esposa após longo tratamento de câncer, tinha certeza de que lá teria qualidade de vida.
Após um mês da mudança, já estava ambientado na cidade e se aventurava a algumas caminhadas na orla. O sol ofuscava sua vista, para evitar isso, além dos óculos, ele usava o chapéu de palha importado do Caribe.
Nesse dia, percebeu que no final da rua havia um grupo de jovens dos seus dezoito anos, rindo muito e brincando entre eles com tapinhas nas cabeças. Eram seis garotos. Ao passar pela calçada, começaram as gozações. Vizinho novo, diziam e um deles pegou o chapéu e, debochando, punha na sua cabeça:
— Oi, fico bem de chapéu de velho?
Pela sua experiência, Silvio viu se tratar de marginais delinquentes. Lançou a mão na tentativa de tomar de volta seu chapéu. Foi aí que começaram a passar de uma mão para outra, na brincadeira de “bobinho”. Ele está no meio tentando pegar o chapéu, todos rindo. Irritado, tentou dar um soco no que estava mais perto, foi em vão. Sentiu-se humilhado e furioso, partiu pra cima dos outros, foi aí que começaram os pontapés, tapas na cabeça. Muitas risadas; olha o velhinho querendo reagir, diziam. Foi quando levou um pontapé no estômago e desmaiou.
Quando acordou, um vizinho que tudo assistiu chamou a polícia. Sentiu-se revoltado, os policiais contaram que não conseguiam domar essa pequena gangue e que tinham a proteção do chefe do morro. Viu seu chapéu no chão, ainda bem que não estragou, “vou acabar com eles, isso não vai ficar assim” — pensou.
Nos dias seguintes, Silvio chamou o seu parceiro da polícia João, que também estava recém-aposentado e contou o caso. Juntos, resolveram que iriam dar uma lição nos marginais.
Lógico que eles, os marginais, demoraram um tempo para voltar na sua rua. Silvio descobriu que eles atuavam nas vizinhanças por diversão e também para pequenos furtos, como dinheiro e relógios, sempre de idosos. Silvio e João convocaram a nova geração de policiais detetives da ativa, seus amigos e armaram um plano. Os dois seriam a isca e ao serem abordados com a escuta, chamariam seus colegas de folga.
Assim foi. Num final da tarde, caminhavam pela orla quando viram o bando, os mesmos seis.
Ao passarem, foram abordados e as mesmas brincadeiras com as agressividades, Silvio deu o alarme na escuta e mais quatro amigos vieram de imediato. Deram a maior surra nos delinquentes. Apavorados, prometeram não mais voltar. Finalmente, Silvio e João puderam gozar de suas aposentadorias em paz.
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