Este texto ficou em SEGUNDO LUGAR no Concurso Escreviver – 2018
O GUARDIÃO
SUZANA DA CUNHA LIMA
PSEUDÔNIMO: PALAS-ATENA
Era
um organismo vivo, que surgira das profundezas de um imenso lago gelado. Em
dado momento começou a sair da água atraído pela luz que conseguia entrever no
alto e que nos seus mecanismos genéticos significava vida e sobrevivência.
Aos
poucos foi adquirindo as estruturas necessárias para alcançar a superfície. Nesta
subida foi-se transformando e sua inteligência, até então movida a instintos,
ativou suas conexões neurais construindo rapidamente uma poderosa rede de
sensores. Começou a ver imagens e cores e
notou que a luz que o havia guiado vinha de um corpo celeste a brilhar naquele
imenso espaço escuro e silencioso que o cercava, convivendo com milhares de
pontos luminosos.
E
aí percebeu-se como alguém sujeito a espanto e êxtase, capaz de raciocinar,
fazer conexões e identificar o lugar para onde devia ir. Logo entendeu que era
naquele belo planeta azul à sua frente, que ia cumprir sua missão. E na mesma
hora quis nomear suas descobertas, pois sentia necessidade de estabelecer
alguma conexão com o que via. Chamou aquele espaço de Céu e o que estava vendo
de Terra e a ele próprio de Gael, um Guardião da Galáxia.
Vinha
de uma civilização muito mais adiantada do que a Terra, cuja missão era
proteger o Universo de iniciativas ou atitudes impensadas de outras
civilizações. Dominavam técnicas de compressão da matéria e hibernação
prolongada, no sentido de conservar seus guardiões para intervir no Universo
quando necessário. Era grande honra ser um Guardião, a despeito do desgaste e
perda de energia que sofriam em cada missão.
Depois
de dez missões eles se tornavam Mestres, e se fixavam onde viviam, na fímbria
da galáxia. Quando seu tempo como Mestres terminava, transformavam-se em Seres
de Luz, constituídos de luz e energia e um tipo de inteligência que os fazia
compreender todas as estruturas universais.
E não morriam nunca.
Percorriam
as galáxias constantemente, observando qualquer alteração que pudesse pôr em
risco a harmonia universal. Quando isso ocorria, acionavam os Guardiões. Se a
questão fosse de força, chamavam os Soldados Universais. O Universo era
protegido de todas as maneiras.
A
Terra era como um grão de areia na galáxia, porém agora uma grande preocupação
dentro da organização cósmica. A ameaça
nuclear desencadeada por uma pequena nação asiática daquele planeta ativara o
alarma cósmico e foram chamados a intervir.
Não iam mais permitir explosões nucleares como as de Hiroshima e
Nagasaki, nem experimentos inconsequentes, ou acidentes nucleares. A Terra não
estava pronta para manusear uma energia tão poderosa.
Gael
pensava nisso tudo, e como ia desenvolver sua missão. Sentindo-se pronto,
deixou-se levar pela poeira cósmica, e através dos mecanismos do espaço-tempo
chegou à Terra.
Começou
então a estudar o ambiente, as pessoas, as estruturas sociais e políticas, para
começar a planejar suas ações. Precisava mapear o lugar onde havia as usinas de
processamento de urânio e as centrais nucleares, as fábricas de bombas ou
artefatos radioativos.
À medida que ia se apropriando destes
conhecimentos e informações, descobriu quanto a Terra fora negligenciada por
seus habitantes. A poluição e os agrotóxicos envenenavam a atmosfera, a comida,
os rios, a água de beber. Os humanos derrubavam florestas que demoravam décadas
para crescerem e o mar era um lixo flutuante. E esta natureza tão desrespeitada
respondia com terremotos, tsunamis, maremotos, incêndios, furacões e pragas.
Uma verdadeira queda de braço que o homem ia inevitavelmente perder. O tempo de
validade da Terra como planeta habitável
estava se esgotando. E agora, um cataclismo nuclear podia destruir tudo e ainda
ameaçar o equilíbrio cósmico.
Também
notou a angústia e espanto dos humanos diante de um céu estrelado. Tudo é
imensamente grande e parece não ter fim. E o ser humano ainda está num grau de
evolução, que não lhe permite saber de
onde veio e para onde vai, nem o que está fazendo neste planeta.
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