NATASHA
SÍLVIA HELENA DE ÁVILA
BALLARATI
Na
minha opinião, é feio ficar falando das pessoas pelas costas, a não ser depois
de haver tentado inúmeras vezes falar pela frente.
E
também não sou homem de inventar, portanto, contento-me em narrar os fatos e
pedir encarecidamente que acreditem em mim.
Além
disso, muitos vão ouvir e me dar razão, são testemunhas de todos os fatos aqui
descritos.
Chovia
torrencialmente, uma chuva apressada, dessas de tirar os sapatos para
poupá-los. Quando chove assim, os sobretudos levam dias pra secar, deixando
aquele cheiro de gato molhado por todo o metrô de São Petersburgo.
Naquele
dia, o porteiro do edifício não abriu a porta pra “ele”, que ficou ali
insistindo e soltando impropérios para quem quisesse ouvir. Lá em cima, da
janela do quarto andar, Natasha espiava por entre as cortinas. Queria ver, mas
temia ser vista e ainda por cima molhar os cabelos.
O
porteiro de mãos trêmulas, com medo de uma possível agressão, conferia a lista
e nela, “ele” não estava, não naquele dia. Todos sabíamos das listas, nós
aceitávamos isso. Às vezes cheias de nomes, outras vezes poucos visitantes
constavam delas.
“Ele” não acreditava no
porteiro já desesperado, quando dizia
que não era só ele, que eram todos que estavam proibidos de subir. Não podia
acreditar, o que Natasha estaria planejando. Quem ela pensa que é, berrava aos
quatro ventos. E que vento, que chuvarada, a tempestade que o molhava
inclemente só contribuía para irritá-lo ainda mais.
Mas
enfim, eu sei o que houve e vou contar pra vocês. Aliás, eu sei o que vem
acontecendo nos últimos dias. Natasha se apaixonou novamente, finalmente
compreendida e amada por um único homem que se dispõe a assumi-la.
Procurei
esse homem, pobre coitado, tentei alertá-lo, dizer que não se iluda, que eu
também sou da lista, eu sou “ele” também.
Nem me deixou terminar, ameaçou dar um tabefe em minha cara. Conseguiu
se conter, mas saiu sem ouvir o final da história.
Com
certeza vocês também já subiram ao quarto andar e sabem do que estou falando. É
desesperador perder Natasha, ele vai sofrer muito quando descobrir, pobre
homem. Enquanto isso, o porteiro continua com a encenação de sempre, medo, mãos
trêmulas, desespero. Natasha pensa
em tudo.
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