Infortúnio
Maria Verônica Azevedo
Um facho de
luz correu da direita para a esquerda, num zás ofuscando os olhos de Sandra. O
medo lhe deixava as pernas bambas.
Ela estava
numa enrascada com o irmão Ricardo.
Eles se
viravam como dava, para garantir algum dinheiro: vendiam, no farol, doces que
compravam no bar da esquina, perto da entrada da favela.
Ficavam
sentados na mureta perto do poste, esperando o trânsito parar. Àquela hora, já
quase dez horas da noite, o movimento já estava fraco, mas eles não desistiam
porque ainda não tinham conseguido o suficiente para garantir a janta. A
barriga roncava.
Ricardo,
sentado no chão, contava o dinheiro, quando um ciclista passou correndo
arrancando as notas da mão dele.
Apesar do
susto gritou:
¾ Ladrão! Eu conheço você.
Sandra aflita correu
até o irmão:
¾ Quem é ele?
¾ Vamos atrás dele lá no cais. É lá que ele faz ponto.
Assim, ela foi
parar atrás das caixas de madeira empilhadas no porto.
Procurava por
ali até ser ofuscada por aquela luz. Quase foi descoberta. Ágil, ela ainda teve
tempo de se lançar para trás de um caixote sem ser vista.
Por instantes
sua mente estava repleta de medos e sombras. Respirou fundo em busca de alívio.
Quando se sentiu segura, pôs-se a correr.
Acabou dando
um encontrão no irmão. Os dois foram para o chão.
Quando se
refizeram do susto ainda tentaram procurar o ciclista ladrão. Mas nada dele! De
mãos vazias, cansados, desistiram da busca e rumaram para o morro. Lá sua mãe
esperançosa os esperava. Ao vê-los notou que algo saíra errado. Estava
estampado em seus rostos.
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