O
livro do Nada
Maria Verônica Azevedo
Todas as tardes eram iguais. Antonieta
aquecia o seu almoço no micro-ondas, sentada sozinha à mesa da copa em frente
ao prato. Não tinha nenhum apetite. Aquela comida, preparada às pressas pela
faxineira, não tinha nada de apetitoso... Pudera. As restrições alimentares
eram tantas que não davam espaço para a imaginação da gentil Joana. Na sua boa
vontade acabava fazendo sempre aquele arroz com feijão e frango.
Terminado o almoço, Antonieta saía para
caminhar. Indicação médica. Não tinha uma direção intencional. Tarefa maçante.
Todo dia aquela mesmice.
Mas naquele dia, ao virar a primeira
esquina tropeçou. Só não caiu porque se apoiou na árvore. Ao se equilibrar de
novo, percebeu o banco de pedra entre as árvores. Pensou em descansar um pouco.
Foi naquela direção. Já ia se sentar quando viu o livro caído no chão.
Pegou-o. Era pequeno, capa vermelha,
uma imagem na frente: o desenho de um círculo colorido com figuras estranhas
que pareciam girar. Era uma mandala.
Ela conhecia as mandalas. Em sânscrito
simbolizam o universo ou completude. O
entrelaçado de formas auxilia a meditação e a procura da paz interior.
Curiosa, Antonieta começou a movimentar
o livro. Com o movimento, ela percebia novas formas. Uma magia.
As páginas a princípio estavam todas em
branco. Não contavam nada. Nenhuma história.
Ela ficou decepcionada. Quantas coisas
interessantes poderiam estar naquelas páginas.
À medida que folheava o livro suas memórias se tornavam presentes.
Ela revivia momentos tristes e felizes
com a sua imaginação.
Ali ficou até o final da tarde. Acabou
levando o livro para casa.
Dali em diante suas tardes não seriam
mais vazias. Ela escreveria suas memórias.
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