JOSÉ VICENTE JARDIM DE CAMARGO
PSEUDÔNIMO: BENDEGÓ TOPAI
Na
imensidão do universo, onde tudo é superlativo, o silêncio também é absoluto,
pois, pela falta de atmosfera, o som não se propaga. Este infinito silencioso pode
ser tão maravilhoso, por conter bilhões
de astros luminosos que o riscam em formações geométricas de tirar o folego, quanto
assustador, pela quantidade de mistérios que ainda o envolve.
Nesse
cenário surreal, Ptolomeu − renomado astrônomo grego – num dia do ano 150 AC, mira,
através de sua luneta, um ponto luminoso rasgando o firmamento numa velocidade
acima da normal e numa trajetória em ziguezague, intercalada com piruetas, atípicas
para os fenômenos celestes. Concentrou-se na tentativa de entender o fenômeno
nunca antes visto. Consultou seus cadernos de anotações, manuscritos de
outros astrônomos, mas nada parecido
encontrou. Então resolveu apelar a Zeus, deus do universo.
No
oráculo do Monte Olímpio, diante da estátua de Zeus, solicitou esclarecimentos para
entender tão estranho comportamento. Seria alguma outra divindade querendo
desafiar o equilíbrio universal tão bem supervisionado por Zeus? Roga uma
resposta...
A
resposta não tarda! Zeus envia seus raios mensageiros, avisando que o astro
rebelde é o asteroide Aristarchus, descoberto pelo astrônomo e matemático grego
Aristarco de Samos e pertence ao cinturão de asteroides situado entre marte e
júpiter. Após vários apelos para que volte a sua rota original, ele se recusa a
obedecer. Junto com a mensagem, Zeus envia poderes extraordinários a Ptolomeu, para
que, como última tentativa, entre em contato com Aristarchus e o convença. Caso
contrário, será castigado pelos raios de fogo de Zeus, que o queimarão até
virar cinza.
Ptolomeu,
voltando ao seu observatório e à sua luneta, localiza no firmamento Aristarchus,
eleva seus braços em direção a ele e, utilizando os superpoderes dados por
Zeus, lhe diz:
—
Aristarchus, porque não obedeces a Zeus, pai dos deuses, do universo e dos
raios, e não retornas à tua rota no firmamento? A ordem dos astros neste espaço
sem fronteiras, onde bilhões e bilhões deles gravitam e se sustentam
mutuamente, é muito importante, pois gera o equilíbrio das forças magnéticas
entre eles, vital para a sua sustentação. Esse seu comportamento de pular de órbita,
pode causar um acidente sideral de grandes proporções, ainda mais se considerarmos
a proximidade da sua trajetória com a do planeta Terra. Caso se choquem, seria
uma hecatombe pior que a que aconteceu há milhões de anos atrás, quando outro
asteroide rebelde atingiu esse planeta, modificando totalmente seus continentes
e aniquilando a metade dos seres vivos que o habitavam. Eu, terráqueo e amante
desse planeta de paz e amor, apelo ao seu bom senso.
Aristarchus,
dando mais uma pirueta para demonstrar sua rebeldia, contesta:
—
Zeus me esqueceu! Lhe disse várias vezes que estou cansado de vagar milhões de
anos por esse espaço silencioso, essa solidão eterna, contornando uma miríade
infinita de estrelas, constelações, planetas, a mercê das suas forças que me jogam
para cá, para lá, tal qual uma peteca de brinquedo. Quero ter um lugar de
destaque nesse universo: Ser uma estrela das bem brilhantes no centro de uma
galáxia gigante, rodeada de inúmeros planetas com inúmeros satélites... Como o
universo está em contínua expansão, pedi a Zeus criar essa galáxia que se
chamaria Aristarchia! Mas ele não concordou! Me disse para ser mais humilde,
pensar menor...Então estou protestando, mostrando que minha presença no cosmos é
importante, posso até causar um desequilíbrio que pode gerar uma explosão maior
que a do Big Bang...
Ptolomeu
se dá conta que não será fácil convencer Aristarchus a voltar à razão e retomar
à sua órbita. Realmente ele pode causar um desequilíbrio no cosmos e causar uma
explosão de matérias com consequências imprevisíveis. Para evitar tal hecatombe,
Ptolomeu tem uma ideia: vai explorar seus sentimentos humanos, transmitidos a
ele − assim como aos demais astros do universo – pelo poder divino de Zeus e a
vaidade de Aristarchus, sua necessidade de se expor, de chamar a atenção, será
utilizada para tal fim.
—
Aristarchus, tua rebeldia não será perdoada por Zeus! Teu desejo de ser a
superestrela de uma galáxia, é difícil de realizar, dado as incertezas do universo
− ora se expande, ora se retrai – mais um entre seus muitos mistérios... Se não obedeceres, Zeus te castigará com o
fogo dos seus raios até virares pó. Além do mais, corres o risco de, saltitando
de orbita em orbita, acabes sendo sugado por um buraco negro e aí então conheceras
o mais temido dos segredos siderais: o que esconde essa escura imensidão! Outros
universos? Mediante tal perigo, sugiro que venhas para a orbita do planeta
Terra, pois ao ingressá-la, enfrentarás o atrito da atmosfera terrestre, que o esfregará
até que de quedes luminoso e tão brilhante que os terráqueos o chamarão de
estrela cadente. Serás por eles admirado tal uma divindade e o teu esplendor
será tanto, que passarão a te expor seus desejos para que cumpras. Terás vida
curta, mas de lembrança longínqua. Se o desejo pedido for realizado, serás para
sempre lembrado como a mais linda das estrelas cadentes e se o desejo demorar a
vir, não te preocupes, pois os terráqueos se agarram muito às esperanças e
estarás então nos seus corações ansiosos pela tua volta, na forma de outras
estrelas que se deixam cair do firmamento, iluminando com sua calda
incandescente o desmedido infinito.
Mal
Ptolomeu expõe seu apelo, observa, no remoto horizonte do espaço sideral, um
ponto luminoso e brilhante que, num mergulho vertical, entra a desbravar a
atmosfera terrestre...
Assim
iniciou-se, na história da humanidade terráquea, o conceito tão romântico de
Estrela Cadente...e
As
respostas para as inúmeras incógnitas do universo, podem não estar nos astros
ou na religião, mas na literatura...
Nenhum comentário:
Postar um comentário