Vida de Criança
Ledice
Pereira
Stella deixava transparecer sua felicidade.
Corria daqui pra lá tal qual um coelhinho esperto. Seus olhinhos brilhavam como
o sol.
Dava gosto ver aquelas bochechas gorduchas
pintadas de vermelho.
Ficava assim sempre que viajava para a casa
da avó.
Lá, sentia-se livre como um pássaro. Podia
brincar no jardim, colher flores, ficar descalça, correr atrás do Cacau, o
labrador de Dona Filomena, que sempre fazia muita festa quando ela chegava.
Aquilo sim era vida!
Em São Paulo vivia presa no apartamento,
muitas vezes sem poder descer pra brincar porque chovia ou fazia frio.
Gostava de passar as férias no calor de
Ribeirão Preto com vovó Filó fazendo-lhe todas as vontades.
Adorava o banho de mangueira que,
invariavelmente, acontecia ao lado dos primos. Depois do banho faziam guerra de
travesseiros.
E a vovó era só sorriso!
Ali, Stella nem ligava para a TV.
À noite, era jantar a comidinha dos deuses,
que vovó preparava com a ajuda de Terezinha, depois cair dura na cama para
acordar no dia seguinte com as galinhas.
Em Ribeirão aprendeu a balançar-se sozinha,
perninha pra frente e pra baixo, abandonou as rodinhas de equilíbrio da
bicicleta, montou pela primeira vez o manso cavalinho que Juvenal, marido de
Terezinha, arrumou pra ela.
Quando, na semana seguinte, os pais
chegaram teve muita novidade para contar. Estava elétrica! Não parava de falar
e mostrar as novas habilidades.
Os primos, um pouco mais velhos, também lhe
ensinaram a chutar bolar, escalar o muro e empinar pipa.
Eram pacientes com ela que estava agora com
seis anos.
Passaram num piscar de olhos as três
semanas de férias. Os pais tiveram dificuldade para tirá-la do galho mais alto
da mangueira onde tentou esconder-se para não ir embora. Em prantos, dizia que
não queria voltar pra casa. Queria ficar morando ali com vovó Filó, que
procurava disfarçar a lágrima que insistia em rolar por sua face. Era sempre
triste aquela separação.
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