PASSAPORTE ITALIANO
Oswaldo
Romano
Esta história marca as férias de julho
de Fábio e sua família. Preparam-se para uma viagem à Itália. Cinco pessoas que
durante um mês vão vibrar com essa aventura. Aventura sim, porque o objetivo é cumprir
uma nobre missão.
Descendentes de italianos vão tornar-se
cidadãos de dupla nacionalidade. Um novo passaporte!
A necessidade da permanência no país de cinco
meses para receberem os novos passaportes foi resolvida pelo Cleber. Um
brasileiro residente, conhecedor dos meios de reduzir essa permanência. Sério,
recomendado pelos inúmeros trabalhos que prestou.
Da procura de documentos comprobatórios
da descendência, pouco falta.
Não foi fácil encontrá-las. Inicia-se
sempre pelos cartórios e cemitérios. Cemitérios onde as crianças a procura dos
bisavôs, veem almas penadas vagando pelo espaço.
Fábio,
casado com Cris, tem os filhos Chiara, 14, Daniel, 19 e Gabriel, 21 anos. Nessa
idade, durante o garimpo, foi uma vibração de movimentar a casa.
Há
tempos eu não assistia netos tão interessados na vida dos avós e bisavós. Bisavós
que quando aqui chegaram não encontraram o país que lhes venderam, um Brasil adornado
de flores.
— Pai,
comentou Chiara. Os nonos ficarão
contentes em saber dos nossos desejos, não é pai?
—
Ficarão muito orgulhosos. Talvez sintam um pouco de mágoa e injustiça.
— Por
quê?
—Eles
vieram da Itália sabendo apenas capinar, mas que teriam uma vida menos dura num
país encantado. Chegaram na terceira classe de um velho navio, camas pelo chão,
poucos banheiros, um mundo de enjoados. Muito triste, filha. Já pensou, agora
nós lá na classe executiva, tomando champanhe! Fruto da semente que plantaram
há tantos anos, guardando minguadas economias. Não lhe parece uma injustiça?
— Que
dó! Então vamos também dormir no chão?
— Seu
sentimento é muito bonito. Bonito, mesmo. O mundo muda filha, e nós
acompanhamos. Veja, vocês queriam ir para o deserto de Atacama, no Chile, certo?
Iremos para um lugar muito melhor. Berço dos melhores vinhos e neve macia,
branquinha, branquinha.
Hoje
a noite, vamos nos reunir. Comentar a viagem, traçar nossos planos. Quero só
alegria. Nossa volta às origens! Vamos ter um pé na Itália!
—
Quantos dias faltam?
— Dez, filha. Dez dias.
Fábio
e Cris estavam eufóricos. Não era para menos. Últimas compras, sacolas viajando
pelos corredores dos shoppings. Não se esqueceram do Cleber, o amigo influente
da Itália, que embora cobrando caro, foi muito gentil. Merece também um belo
presente.
— Foi
com o sacrifício dos nonos, que desfrutamos desta fantástica viagem! Não
podemos esquecê-los, comentava Fábio.
—Pai,
se for tão bom como fala, a gente fica lá?
— Não
filha, mas dá vontade.
Nisso
vindo da cozinha aparece a empregada Cleusa que atendeu a porta.
— Seu Fábio. Tem um homem aí fora. Quer
falar com o senhor.
Fábio
levanta-se apressado.
— Oi,
Sr. Francisco! Fique sossegado seu Francisco, estamos preparados, prontos para
a viagem, não se preocupe.
— Fábio, escute Fábio disse-lhe, (fez
silêncio) e se abriu: Fábio, não vá. Sujou! Não vá!
O Cleber
foi preso! Fazia maracutáia. Os carabinieres
italianos procuram também as pessoas que ele ajudou. Estão sendo detidas!
Fábio
deu um respiro fundo, pensou, soltou uns palavrões contidos de enrubescer um
convento.
Fábio matuta um momento, volta para a
sala, cabisbaixo.
— O que ele queria? Perguntou sorridente a
Cris.
— Que
lá está um frio insuportável, de gelar a alma. Caindo avalanches. Não devemos
ir.
— Mas,
estamos prontos, e agora.
— Agora? Bem, agora... Sim, vamos para
Atacama. Também frio, mas suportável. É a terra das vicunhas. Espero espantar
essa bruxa que me persegue, e que lá, não nos tirem os pelos.
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