Estado
de espírito
Fernando Braga
Um fim de semana, começo
de inverno, fim de tarde
Olho pela janela, céu
limpo, aquele desejado sol
Temperatura, a mais
apropriada ao nosso corpo.
Um Scottish no copo, on
the rocks, uma dose.
Sento-me saboreando esta
bebida em goles
Olho para minha sala e
vejo, o velho piano
Que pertenceu à minha
saudosa mãe,
Presente de seu pai, que o
trouxe da terrinha.
Sentindo-me animado sento
na banqueta
Abro a sua tampa, toco cinco
notas
Sai aquele mesmo som, ainda
perfeito
Pedindo-me insistentemente,
para tocá-lo.
Dois goles do Whisky
absorvo,
Toco três músicas, que
sempre amei
Da época de ouro do cinema
americano,
Finalizando com No Rancho
fundo
Depois canto com minha
rouca voz
Mas dentro do tom, sem
desafinar
E mais dois goles desta simpática
bebida
Que aprecio desde a
mocidade.
Neste momento sinto-me
enlevado
Lembrando meus pais, e minha
juventude
Olhando pela janela, com o
sol se opondo
No superlativo da vida, me
sinto.
Encho novamente o copo de
cristal
Sento-me em minha poltrona
preferida e
Confabulando penso: Estou
feliz! Muito feliz!
-Tive uma vida plena e,
cumpri minha missão
Vem-me à mente que a morte
é hereditária
E eu, já na quarta fase da
existência aspiro
Uma morte boa em um
momento igual a este,
Sentado ao piano tocando,
ou na cama ao lado de minha amada.
Coloco no som, meu preferido CD
Suaves músicas de meus
velhos tempos
Inspirado me sinto e, o
som tocando
Sento-me novamente, começo
a escrever.
Um pouco sob o efeito ardido
da bebida,
Dou vasão a um delírio
injusto,
E um velho, com a mente
preservada
Da origem ao trecho que se
segue
Já na fase derradeira da
existência
Sinto estar perdendo o
leme desta nau
Restando apenas tomar o
rumo certo
Diretamente para a
eternidade.
Começo a sentir agora, o
inverno do final da vida
O frio da lousa do
sepulcro
Sobre minha jaula
firmemente cimentada
O início exasperante da estrada
escura.
Sem outra possibilidade,
entremos
Terá mudanças o novo
espaço ermo?
Minh´alma a se desprender
sozinha
Do corpo inerte, que se
decompor irá.
Esta alma libertada,
continuará alhures?
Em outros espaços mais
apropriados?
Encontrar entes queridos que
amei?
É tudo o que desejo ainda!
...Mas,
Mas, me vejo cético,
esperando a morte,
Um fim extremo, sem
alternativas,
Sem inferno, céu, nem
mesmo Deus presente,
Simplesmente, um fim
inexorável.
Acredito firmemente, ser alguém
sem alma
Como um gato, um cão ou uma
cotovia,
Morrer sem privilégio é
triste!
Unicamente, será o final dos
tempos! De tudo!
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