PROFISSÃO: PERIGO
Oswaldo
U. Lopes
As profissões médicas e paramédicas
sempre gozaram de um respeitável prestigio, seja por méritos próprios seja
porque o objeto de sua arte, era e ainda é uma vida humana em perigo. Isso era
verdade até pouco tempo. No Brasil, e em particular
no Rio de Janeiro, invadir hospitais a fim de liquidar bandidos ou criminosos
tornou-se uma realidade do dia a dia. A bandidagem já chegou ao requinte de
dizer que entre médicos, suspeitos e enfermeiras bala perdida é a que dá na
parede.
Na zona norte, já é praxe o aviso
colocado na cozinha:
“Se for fazer pipoca não se esqueça de tampar
a panela.”
È que se elas estouram sem tampa, não
cabem no chão, deitados, todos os que estão por perto. Pânico verdadeiro
originado do continuo pipocar das armas de grosso calibre.
Bem voltemos ao tempo em que a profissão
não era tão perigosa. A única especialidade considerada de risco era a
psiquiatria, mais as suas congêneres, a psicanálise e a psicologia. A razão era
simples, lidavam com pessoas com distúrbios mentais que muitas vezes resultavam
em condutas alteradas e perigosas.
Um caso bem conhecido foi o de um
conceituado psicanalista. Uma de suas clientes, senhora pertencente a uma
respeitável família de juízes e desembargadores, em meio a terapia desenvolveu
uma enorme dependência em relação ao terapeuta. O que no jargão chama-se
transferência positiva, para ela era paixão mesmo. Ela simplesmente amava seu
médico. Acontece que a cliente que ele atendia antes era jovem e muito bonita e
sempre saia da consulta com um lindo sorriso no rosto, esbanjando felicidade.
A apaixonada não teve dúvidas compareceu
a sua hora, esperou a saída da linda mulher e com ela ainda presente, mandou o
seu terapeuta desta para melhor com dois fulminantes tiros. Não foi sequer a julgamento,
pois foi considerada inimputável dada a confusão mental que desenvolvera e o
ciúme doentio que resultara.
Outro caso memorável envolveu um famoso
psicanalista que além de competente era conhecido pelos preços que cobrava.
Como é comum na especialidade não havia nem secretária nem enfermeira. Um jovem e bem apessoado rapaz apareceu para a
primeira consulta e estabeleceram-se preço e condições, tais como horário,
frequência semanal etc. Tudo acertado despediram-se.
No dia e na hora aprazada o rapaz
apareceu, invadiu o consultório, só que agora portava um revolver e anunciou um
assalto. Estabeleceu-se uma pequena confusão, o paciente que saia era outro
psicanalista e o jovem acabou por acertá-lo no abdômen. O jovem então intimou o
psicanalista sênior exigindo uma elevada soma em dólares, sob pena de outro
tiro.
O que fora atingido pelo disparo pedia
para ser socorrido. Médico, tinha noção da gravidade de sua situação. O sênior
telefonou para seu doleiro pedindo que ele mandasse entregar no seu consultório
a soma de vinte mil dólares. Este muito surpreso com o inesperado pedido
resolveu avisar a policia que cercou o prédio até com helicóptero.
O ferido deveras assustado dizia para o
ladrão:
— Me
socorre que eu lhe pago os melhores advogados, garanto que você não vai nem
para a cadeia.
A policia invadiu o prédio e o
consultório, muito interessada no assaltante e não muito interessada no ferido,
que acabou salvo pela mão de um colega que tinha consultório ao lado e o levou
as pressas para o Hospital das Clinicas. Acreditem, na confusão o ladrão
escafedeu-se e não foi preso.
Outro fantasma a rondar esses
especialistas é o suicídio. As pessoas com graves distúrbios como depressão ou esquizofrenia,
podem no extremo de uma situação, para elas, insuportável, optar por dar um
término ao sofrimento praticando o suicídio, muitas vezes de forma trágica:
enforcando-se, disparando um tiro no rosto ou jogando-se do alto de viadutos ou
penhascos.
Ao sofrimento de perder um paciente que
estavam acompanhando, correm, os profissionais de saúde, um risco sério por
causa dos familiares que os culpam pelo desenlace. Foi alarmante o caso de um
moço filho de um conhecido politico que tragicamente jogou-se de um viaduto. O
pai inconformado em vez de recorrer ao Conselho Regional de Medicina, onde são
discutidos os possíveis erros de conduta médica, valeu-se da justiça comum.
Membro de um prestigiado escritório de advocacia, alegou danos morais e o caos
foi até o Superior Tribunal de Justiça. Foi somente ai, depois de ter sido
derrotado na primeira instância que o médico conseguiu provar sua inocência no
caso.
Conto também a história da Maria dos
povos de rua e do desespero que a atingiu quando da perda, por suicídio, de um
jovem paciente. Entre ameaças e processos judiciais há muitas histórias que
correm sobre o assunto.
Nem tudo são flores na profissão médica,
ou melhor, entre as flores há espinhos e um monte de erva daninha. Uma coisa é
certa, não é na Faculdade que se aprende a resolver e tratar essas situações. A
arte continua longa e a vida continua breve.
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