Lágrimas ao Vento - José Vicente J. de Camargo


Imagem relacionada
Lágrimas ao Vento
José Vicente J. de Camargo


Pelo título, a poesia que você está escrevendo deve ser triste.

Não! Respondo. Para mim o choro é um desabafo, um alivio. Pode ser de tristeza ou de alegria. Não devemos conter as lágrimas. Devemos deixa-las fluírem ao vento, refletirem a luz do sol ou o brilho do luar. É uma dádiva que possuímos que exalta nossos sentimentos, mostra que somos humanos.

Tem razão! Retruca. Quase sempre associo choro e lágrimas com coisas tristes. Deve ser porque me sinto uma pessoa amargurada.

Você? Na flor da juventude, com a vida pela frente, sente-se amargurada? Realmente está lhe faltando algo e eu já sei o que é.

− O que é? Me pergunta curiosa com aqueles olhos grandes de jabuticaba dando a intenção de quererem prender-se aos meus.

Amor! Necessita de alguém que a faça descobrir esse sentimento milagroso. Estando com ele não existe amargura que resista. Desaparece na hora. E no terreno adubado por ele, nascerá um pé de jabuticaba com frutas tão negras e brilhantes como os seus olhos. Quando as degustar, irá sentir alegrias e paixões. Então conhecerá as lágrimas de felicidades, tão abundantes, que parte se perderá ao vento.  Estou à disposição para lhe mostrar este caminho.

Obrigada, muito romântica a sua dica. Responde. Mas tem um problema, não gosto de jabuticaba. Tem um caroço muito grande que me faz engasgar.

Esta é uma das características do amor. Podem surgir empecilhos que não lhe agradem. Mas aí, deve saber contorna-los com sabedoria. Aproveite as coisas boas e descarte o que não gostar. Saboreie o suco da jabuticaba e expele, com jeitinho, o caroço incomodo. Se engasgar e lágrimas de desespero surgirem, não as retenha. Deixe-as irem ao vento, faz parte do jogo.

Creio que vou seguir esse caminho e vou precisar de um instrutor, retruca indagando-me convidativa.

Estou ao seu dispor, respondo. É só trocar a caneta pelas ferramentas de jardim para o plantio da jabuticaba. Tenho boas sementes que não me deixam na mão.


E digo mais: Sou um jardineiro fiel...

Nenhum comentário:

Postar um comentário