O DESCANSO DE JOSEFA
M.Luiza
de C.Malina
Esta
história chegou através das gerações anteriores a minha. Tia Josefa era uma bela
solteira convicta. Professora aposentada transmitiu a neta mais velha de sua
irmã o segredo que deveria ser encontrado: uma cápsula enterrada por uma bisavó
naquele terreno.
Eu?! Está em minha geração a
responsabilidade? Não sei, não. Ontem terminei a reforma do jardim. Acompanhei
as violentas enchadadas do jardineiro. Troquei
a terra. Árvores de raízes pivotantes foram retiradas. Remexi o enorme jardim.
Nada. Seria verdade o tal conto da hora da morte! E se fosse caduquice! Não
pode ser. O que teria dentro desta cápsula que ninguém encontra? E por cima
ainda dentro de uma caixa de concreto. O que mesmo? Caixa de concreto? Está aí
a evidencia.
O
pensamento se deslocou para o tempo da adolescência. Sim. Estudava à sombra de
um Ipê. A reforma da cozinha. Está aí. Por isso ninguém a encontra. Lembro-me
de mamãe discutindo com o pedreiro de que não tocasse na caixa de concreto que
deveria ser a fossa, que a anulasse com um piso forte de concreto.
Posicionei-me
onde existia o tal Ipê. Era de um rosa intenso. Nas folhas, aí é que foi o erro
dele, soltava muitas folhas e foi retirado. Perderam-se as folhas, as flores e
o encanto que enfeitava o mês de junho anunciando as férias. Ganhou-se uma
piscina.
Então
é isso! Caminhei no entorno. Posicionei-me.
Era aqui. A sala de almoço ampliada. A caixa soterrada nesta posição. Mais ou
menos por aqui. O que faço! Fotos antigas. Entrei. Isso. Álbuns
empoeirados. A mesma posição da casa há muitos anos. Que pena. Não ter a visão
de RX. A porta antiga. Uns passos, a sala pequena. Achei. É neste ponto que
terminava a casa. Mais uns passos. A cozinha ao lado ampliada. Deve estar nesta
dimensão.
Confusa.
Sentei-me no chão. Que trabalho. Deslocar o piso de ipê. Vasculhar. Vão me chamar
de doida. Preciso fazer isto. Quero acabar com esta coisa. Já sei. Férias. Vou
comprar passagem para um parque temático para as crianças. O pai precisa de
férias. O pai ausente terá a chance de maior contato com os filhos. É isso.
Resolvo já.
Negócio
fechado. Alguns dias e terei desvendado o tal mistério da avó da famosa Tia
Josefa, irmã da minha tataravó.
Ansiosa,
os dias não passavam. Uma reforma vap-vupt nem seria percebida.
Viajaram
pela manhã. No mesmo dia iniciou o quebra-quebra que ninguém entendia o seria
feito. Contra piso fortíssimo. A dica estava certa. Britadeira ensurdecedora.
Aguenta mais um pouco. Poeira por todo o lado. Saí. Neste momento o rapaz
grita.
—
Senhora! Por favor, venha até aqui. Encontrei outro contra piso. O que faço?
Um
lenço coberto no meio rosto. Arregalei os olhos. Achei. Será!
—
Fure aos poucos, não danifique a tampa - disse calmamente segurando o coração
que me saia pela boca.
—
Tampa senhora? Isto é outro piso.
—
Está bem, concentre-se apenas em um retângulo de 40 cm por 50 cm. Vamos ver o
que há.
Esfregava
as mãos. Ele notou. Olhava de canto, e eu de canto para ele. Ele se distraiu.
Forçou mais até que... Um vácuo se fez. A britadeira afundou junto com a força
do rapaz carregando-o para baixo de um fosso. Um desastre. Perplexa, agachei
para localizá-lo.
—
Está tudo bem?
—
Sim, a senhora tem uma lanterna?
—
Momento!
Ao
entregar a lanterna acesa, apontei para um pedaço de parede com um brilho
diferente. Decidi não entregar a lanterna. Encaixei uma escada e pedi que
subisse. Assustado e fingindo-se que havia uma lesão na perna, subiu com dificuldade.
—
Que loucura – exclamou – a senhora sabia deste túnel?
—
Túnel? Há algum túnel aí?
—
É o que parece.
Dispensei-o.
Para certificar-me, o levei a um pronto-socorro, pagando-lhe o dia.
Voltei.
O carro voava. O mundo girava. Cheguei. Tranquei bem a porta. Desci estupefata.
A lanterna. O que é isto. Parede cintilante!
Vou tirar um pouco do material. Vou levar já ao ourives da cidade
vizinha. Acredito que temos uma mina de ouro ou cristais. Não, não deve ser
diamantes.
Seria
isto o que ela chamava de cápsula?
Nenhum comentário:
Postar um comentário