Madalena já era! - Crônica de José Vicente J. de Camargo



Setembro 1947: Bonde 'Frad. Coutinho' sobe a rua Xavier de Toledo, dirigindo-se à Pinheiros, onde fazia ponto final na esquina da Rua Theodoro Sampaio com a Rua Fradique Coutinho



Madalena já era!
José Vicente J. de Camargo
Estilo: Crônica

Seu nome tem Vila, mas vila mesmo deixou de ser há muito tempo...

Conheci-a no tempo do bonde aberto nos lados, cobrador uniformizado de pé nos trilhos, tinindo em cada parada a campainha do “avante”. Passageiros humildes, já que andar de bonde era coisa de pobre, classe média andava de ônibus e rico de lotação ou táxi.

Suas casas eram simples, geminadas,  algumas assobradadas, mas quase todas com jardim floridos na frente, e quintais nos fundos onde predominavam as mangueiras e os abacateiros.  A maioria delas habitada por famílias de imigrantes portugueses e italianos.

Aos poucos, os demais bairros da cidade a foram invadindo, atraídos pelo seu ar interiorano, charme bucólico relembrando o “Green Village” ou o “Soho” nova-iorquinos. Bons restaurantes e aconchegantes bares de música ao vivo foram pipocando pelas ruas, casas e sobrados cedendo lugar para edificações sofisticadas e o perfil dos moradores mudando radicalmente para classes de maior poder aquisitivo e de nível profissional e cultural superiores.

Mas a fama de bairro jovem, alegre, tolerante a todos os gostos e tendências virou um feitiço e este, dado aos atos de vandalismo que ocorreram durante o último carnaval, virou-se contra o próprio feiticeiro:

Vila Madalena enquadrada pela policia! Encurralada pela desordem! Estuprada, violentada,  mijada e demais atributos negativos que horrorizou quem a conhece, quem lá mora ou quem lá já passou horas felizes.

Este exemplo ferido nos leva a questionar seriamente não só a problemática da superpopulação que afeta a cidade de São Paulo, com a falta de uma política consistente de planejamento urbano, como também a total falta de coordenação das áreas da policia civil, responsável pela manutenção da ordem e da segurança de tais festividades.

Contribuo com uma sugestão ao Sr. Prefeito, respeitando sua admiração pelas “faixas”. Que adote para o próximo carnaval a “Bloco Faixa” para maior controle dos blocos de foliões, tendo ao lado o xixiduto para o descarte correto do líquido festivo, de utilidade para ambos os sexos, já que, quem está ou é da Vila, não se importa com pequenos detalhes burgueses...



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