GANHEI UM CACHORRO
Oswaldo
Romano
Ganhei um cachorro quando tinha dez
anos, digo, dezessete anos. Era um labrador marrom cor de mel. Um filhote
ainda, os pelos eram penugens, parecia muito novo. Ele era muito brincalhão, e
meu melhor amigo. Dormia no meu quarto...
Disse aos meus pais que ganhei, mas na
verdade curtia esse desejo há muito. Faltava oportunidade de realizar meu
sonho. Encontrava oposição deles, e dos vizinhos.
— Espere. Por que dos vizinhos? Por
acaso eles é que vão sustentá-lo?
— Não é só isso não, depois explico. Moro
em apartamento. Temos também em casa uma calopsita.
— Desculpe, eu não a conheço. É feroz, é
uma ameaça para o cachorro?
— Que nada, o vizinho será. Ela é uma
ave de bico curvo. Fica solta, anda pela casa, e às vezes solta suas
necessidades onde não deve.
— É assim um papagaio, uma arara...
— Não!!! Deixa eu te falar do cachorro. A
vontade que tinha de comprá-lo era tanta que dispensava um doce, e o valor correspondente guardava no cofrinho. E assim juntei até seu
valor.
— Quanto você pagou?
— Foi ai que deu a maior confusão.
Aproveitei que meus pais fizeram uma viagem de fim de semana longo para o
Uruguai, junto com meus avós. Fui ao Shopping Vila Lobos, lá estava ele. Vi que
estava me esperando. Limpei meu saldo no banco: $3.500,00 reais.
— Cacilda! E daí?
—
Ele de porte grande, não achei um taxi que nos aceitasse.
O único que deu atenção, fiquei alegre. Ele
estava acostumado levar “Luluzinho” que saia do pet shop, perfumado.
— Vixi! E daí?
— Ele cheirou o meu labrador, arregaçou
o nariz, subiu no carro e se foi. Mas, um amigo que nem carta tinha e que
estava comigo, resolveu ir pegar o carro do pai que também estava viajando naquele
fim de semana. Como ele demorava, e meu cachorro estava com sede, sai da rua
onde eu o esperava, e fui num posto próximo, pois o coitado estava com a língua
de fora, seca.
Nesse meio tempo, meu
amigo chegou, não me encontrou, e deduziu que eu tivesse resolvido tomar outra condução.
Na dúvida, na frente do shopping, ele ainda deu uma descida do carro e, medroso
sem a carta, entrou só até o hall, à
minha procura. Lá fora, um guarda vendo o carro estacionado à porta,
examinava-o superficialmente e o fato era tão inusitado que o levou-o também
checar na entrada com um segurança o acontecido. Meu amigo não me encontrando,
nessa hora saiu, entrou no carro e se
foi.
Depois de matar a sede do cachorro e
minha, voltei, o procurei e deduzi que não viria. Eu estava agoniado com o
cachorro.
Lá no Uruguai, um aviso do banco no
celular do meu pai, mostrava que limparam minha conta no banco. É um sistema de
controle das contas de terceiros, filhos, etc. Levou um susto. Tremia. Meu pai disse
para minha mãe: Vamos com calma, mas acho que sequestraram nosso filho.
Limparam a conta dele! Não consigo comunicação...
Os dois saem desesperados pelo shopping
atrás de telefones.
Conseguem falar com tios, amigos, porteiro do prédio, menos
comigo, o comprador do cachorro. Imagine a aflição, o furor dos momentos
seguintes.
Finalmente eu atendi ao telefone em casa:
que é apartamento e escuto:
— Filho! Filho, como você esta? Você
esta bem?
A mãe do lado do meu pai não suportando,
indaga impaciente: Pergunte se ele está ferido, e segue gritando; — Está ferido
filho?
— Filho, pelo amor de Deus, fale o que
aconteceu?
— Nada pai. Ia fazer uma surpresa para
vocês. Comprei um cachorro!
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