CONTO DE FÉRIAS Nº 1
A FORÇA DO AMOR!
Carlos
A. Cedano
Nós
já tínhamos nos visto antes, e foram muitas vezes. Durante um tempo foi uma
entendimento sem palavras, só olhares e sorrisos sutis. Aos poucos a gente foi
se “conhecendo”: mesma pipoca doce, mesmos horários e filmes, e cada vez mais
próximos nas filas das bilheterias. Foi um flerte bonito, sem presa, gostoso!
E
aconteceu o que ambos queríamos: sentar juntos! Antes de começar o filme, ele
virou-se para mim e disse:
— Conheço algumas coisas sobre você, mas
gostaria saber teu nome.
— Silvia. E o seu? Respondi.
— Armando! Gostaria tomar um café com
você quando sairmos, você topa? Continuou ele.
— Sim. - respondi no momento que o filme
se iniciava.
Durante
uma hora e meia houve olhares furtivos e movimentos frequentes que denunciavam
nossas recíprocas emoções a flor da pele. Eu não conseguia concentrar-me no
filme, estava muito ansiosa!
Caminhamos
até um café, que já conhecia, e onde o tinha visto pela primeira vez. Falamos
de nossos gostos e preferências. O clima da conversa foi sem presa e sem
monopólios da palavra! Pegou minha mão, e gostei muito!.
Nas
semanas seguintes, tivemos teatro, restaurantes e conversamos sobre projetos de
vida, famílias e até de hobbies e esportes praticados.
—Silvia - disse-me - gostaria te levar a dançar em um
lugar muito legal! O Que acha?
— Acho
que você demorou um pouco! - respondi com um sorriso e um olhar malicioso.
Começava a descobrir em mim coisas que desconhecia. Ousadia, por exemplo!
Armando
escolheu um lugar que parecia feito só pra nos dois. Dançamos o tempo todo e de
tudo! Sentia-me feliz e sedutora. Na primeira música romântica que tocaram
dançamos “olhos nos olhos”, e depois de rosto colado. Estávamos totalmente
apaixonados!
Saímos
cedo da danceteria.
— Vou
te levar ao meu apartamento, você ainda
não o conhece. Vai gostar. - disse
ele ao mesmo tempo em que eu debruçava a cabeça em seu ombro, e seguimos.
Beijaram-se demorada e intensamente.
E sem tons de cinza, foram passando do azul sereno para, pouco a pouco, atingir
o vermelho da paixão! Quando o amor atingiu seu ápice o casal foi envolvido por
um intenso silencio e tranquilidade. O mundo lá fora não existia!
Nos dias que se seguiram,
Silvia atraia a atenção dos colegas de trabalho, pelo rosto de felicidade, e sorriso que iluminava o ambiente. Maria, sua
melhor amiga e confidente, já adivinhava.
Um ano depois, eles
estavam casados.
Passaram-se alguns anos, o
casal viajava constantemente. Armando para atender seus clientes como advogado
especialista em contratos internacionais,
e Silvia para participar de eventos e seminários. Estavam bem de vida, e
quando possível, faziam viagens juntos.
Mas, era uma vida tensa, sufocante.
Na volta de uma viagem
longa, Armando chegou a casa, sabendo que não encontraria a esposa, que somente
chegaria em três dias. Armando aproveitou para refletir e avaliar a vida que
estavam levando. Um dia-a-dia exigente de compromissos profissionais que tinham
tomado conta de suas vidas.
Silvia chegou cansada e
com pouca energia, beijou Armando, pediu licença e foi tomar um banho demorado.
Ao voltar deitou, e em pouco tempo estava dormindo.
No dia seguinte era
sábado, ele acordou cedo, porém esperou que ela acordasse. Ela despertou
olhando para Armando e sorriu dizendo:
— Bom dia meu amor, como foi sua viagem?
— Minha querida, há messes sinto dificuldade para viajar a
trabalho. Não gosto ficar longe de você, e nem sempre tenho certeza de que vou
encontra-la na volta. Nossas viagens têm sido uma sucessão de desencontros e
ausências. Até nossas férias têm sido condicionadas por questões de negócios
urgentes e imprevistos! Você acha que podemos continuar a viver assim? – sondou
ele.
— Que bom que você me diz isso, sinto o
mesmo que você, e acho que nenhum
esforço profissional, mesmo que bem sucedido, pode justificar a destruição de
nosso carinho, de nossa relação! E a gente se ama tanto, né meu amor! - Disse
Silvia explodindo num choro longo tempo contido.
Após
alguns dias, decidiram sair de férias, a rigor, as primeiras desde o casamento.
Salvo Maria, ninguém teve noticias deles durante um mês.
Na
volta o casal foi se desfazendo discretamente de propriedades, transferindo
seus negócios, e optaram por uma vida
mais simples. Onde? Só Maria sabe e guarda bem o segredo! Porém, de tempo em
tempo algumas noticias chegam. Eles já têm um casal de filhos, Silvia trabalha
com artesanato, e Armando é professor e orientador de adolescentes.
Uma
noite quando Silvia saia do banheiro envolta numa enorme toalha, enquanto caminhava pelo quarto lembrando do passado, deixou cair a toalha mostrando a nudez de seu belo corpo, e se aconchegou
nos braços do marido. Essa noite eles se amaram como se fosse a primeira vez: sem falsos pudores, sem medos e sem
restrições!
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