Rainha - Lucia Amaral de Oliveira Ribeiro


Rainha
Lúcia Amaral de Oliveira Ribeiro

– Almoço terça, não posso!
– E quarta?
– Não...
– Quinta?
– Impossível.
– Alguma ideia? Não vale dizer 29 de fevereiro.
– E se o ano for bissexto?
– Este não é.
A conexão caiu. Ele reuniu as informações, poucas. Seu nome: Rainha da Noite. Escrevia bem, sem abreviações, sem gírias. Idade? 30 anos? 40? Bonita, feia? Como saber? Em algum lugar da conversa encontrou o nome de um café que conhecia na Av. Brigadeiro Luís Antônio, Café Teatro. De fato, ficava ao lado de um teatro.
Voltou a conexão. Ela estava on-line.
– Rainha da Noite, quando nos veremos?
– Tem que ser de dia.
– De dia, trabalho.
– Agora?
– Estou no trabalho. Posso escrever, mas não posso sair daqui.
Ele girou a cadeira, inconformado com a possibilidade escancarada, que não podia aproveitar. E se saísse agora do trabalho? O que aconteceria? Valeria a pena correr o risco de ficar sem trabalho? Melhor não. Ideia maluca, melhor recomeçar a conversa.
– Sábado de manhã.
– No fim de semana não posso. Tenho que descansar, nem falo nos fins de semana. Cuido da minha voz.
O telefone tocou. Ele atendeu um cliente, a conversa foi longa.
Voltou para a tela, ela ainda estava lá.
– Rainha...
– Preciso ir agora.
– Já? Ainda não são 6 horas. A cada dia cresce meu sentimento de afeto por você.
O coração dele estava acelerado.
Ía escrever sobre o amor, mas ela não estava mais lá. Ía dizer que tinha se apaixonado desde o princípio, e que nas últimas semanas só pensava nela. Fosse o que fosse, ficaria para o dia seguinte.

Saiu do escritório, e sem pensar muito, andando pelas ruas, se viu diante do Café Teatro. Tomou um café. Com o pensamento em fantasias de amor, leu o aviso na bilheteria: excepcionalmente, ainda temos um ingresso para o espetáculo de hoje. Olhou o cartaz: Baseado na ópera imortal de Wolfgang Amadeus Mozart: a Flauta Mágica.


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