O copo - Suzana da Cunha Lima




O COPO
Suzana da Cunha Lima


Não sou um copo comum. Fui idealizado por um designer famoso, que me criou em puro cristal, com um pé ricamente trabalhado. Ele me imaginou em brindes em salões suntuosos e acompanhando vinho de safras famosas.  

Realmente eu frequentei as melhores mesas, nas mais finas comemorações.

Porém o desleixo de alguns serviçais, foi acabando com o restante de meus irmãos. Éramos doze, só eu restei. E desta maneira, passei para “o uso doméstico”, vejam só...

E esta mulher, que herdou o outrora belíssimo jogo de cristais do qual eu fazia parte, não entende nada de refinamento nem de elegância, não sabe dar valor a uma obra de arte num material tão precioso como o cristal. É muito tosca e me utiliza como um copo comum, de vidro barato, onde coloca coca-cola ou outro refrigerante horroroso e dá para seu filho, um moleque sem nenhuma educação.

Ah, não pude suportar mais tanta ignorância.  Tanto fiz que acabei caindo no chão. Antes destroçado e aos pedaços, do que servindo bebidas bregas, em mesas sem nenhuma classe ou elegância.

Ah, ninguém merece!


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