GUARDA-CHUVA GENIOSO - Suzana da Cunha Lima



GUARDA-CHUVA GENIOSO
Suzana da Cunha Lima

Olhei para o céu. Nuvens negras avisavam de chuva iminente.  Já fiquei ansioso porque eu e meu guarda-chuva vivíamos brigando por causa das varetas que eu não consertava. Era vaidoso, o danado.   De pirraça, ele custava a abrir e a chuva me ensopava todo. Eu já estava cansado daquelas briguinhas bobas, então conversei com minha velha capa de chuva, amiga de tantas campanas do tempo que eu era investigador, e armamos para ele.

Quando saí do carro, pedi com muita gentileza que ele se abrisse, pois a chuva já caía forte. Mas aí que ele emperrou de vez.  Então me cobri com o capuz da capa e andei rápido com ele na mão até encontrar uma caçamba de lixo. Ali mesmo o deixei, e segui indiferente aos seus pedidos de desculpa. Suas varetas tremiam descompassadas, ele estava meio aberto, meio fechado, fazendo força para sair dali.  Uma lástima!

- Traidor, gritei.  Quem vai te pegar agora vai ser um mendigo. Ou o lixeiro te esmaga na máquina e  vais servir de serragem.  Cansei! Agora é com nós dois, minha velha capa - disse alisando a capa.
Ela sorriu satisfeita e ainda fez um gesto feio para ele, preso entre os sacos sujos e mal cheirosos. 


Confesso que fiquei com muita dó, ao vê-lo soluçar agarrado na beira da caçamba para não se sujar no lixo. Era cheio de frescuras e chiquezas...

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