O CAMINHANTE - M.luiza de Camargo Malina


O CAMINHANTE
M.luiza de Camargo Malina

Com uma visão de 360 graus, ela de tudo sabe, qualquer transparência é mera coincidência.

Brian crescera num orfanato acompanhado de uma corrente em seu pescoço, fixada sem qualquer fecho, com o pingente de uma diminuta garrafa. Para ele era tão natural quanto aos dentes na boca.

Causava curiosidade. Tanto a sua origem quanto ao líquido interno que reluzia à medida que crescia. A preocupação dos cuidadores aumentava.

Certa vez Brian desaparece. Selene, a cuidadora mais antiga, recolhe-se preocupada em seus aposentos. Os dedos percorrem o colar de contas. Em sua imaginação aflitiva recorre a uma tesoura, cortando a corrente de Brian. O telefone toca. Brian é encontrado sem sentidos. Selene corre ao seu encontro. Entende o silêncio de gratidão na respiração de Brian.

A pequena mão entreaberta, segura a minúscula garrafa rompida, sobrepondo a letra M com o líquido em forma de tesoura, cortando a corrente que o prendia ao passado que se esvai, num brilhante fluir do entreolhar de Selene e Brian.


As  informações foram interrompidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário