IN MEDIA RES – AS
MÁSCARAS CAEM
ANTONIA MARCHESIN GONÇALVES
O
ambiente na sala está muito tenso, o silêncio e, ao mesmo tempo, o estado de
nervosismo em que todos se encontravam, percebiam-se no ar. Expressões
fechadas, alguns mordiam as unhas das mãos, outros andavam de um lado ao outro
da sala. São poucos, só os mais próximos de Esmeralda, a matriarca e fundadora
da grande empresa de cosméticos. Empresa essa que ela, ao precisar trabalhar
após ficar viúva com três filhos, sem os rendimentos do marido e sem qualquer
herança, começou a vender cosméticos de porta em porta.
Mas
via que vender aqueles produtos que já existiam no mercado não lhe dava muito
lucro. Formada em biologia, sabia as funções de plantas e flores e como poderia
usá-las, tanto para comer, como tirar proveito das substâncias nelas contidas,
por exemplo, usar rosas para perfumar os cremes e óleos regeneradores para a
pele. Resolveu montar um pequeno laboratório no quintal da casa e estudar a
melhor forma de aproveitamento das flores e folhas da natureza. À noite, após
atender à clientela e dar o jantar aos filhos, quando dormiam, ela fazia as
experiências manipulando produtos no laboratório.
E
assim ela criou uma empresa de cosméticos totalmente naturais, desenvolvidos
com plantas que havia na época. Era inovação! Acabou criando uma empresa de
sucesso. Juntamente com seus filhos, dois homens e uma mulher, um administrador
de empresa Alberto, outro economista Julio e a filha Eugenia, bióloga como ela,
formou o time para administrar junto dela a empresa que crescia. Ela, como
sócia majoritária e presidente, dava a palavra final.
Agora
eles estão reunidos com os devidos cônjuges para deliberar junto aos advogados
a decisão que deveriam tomar. Esmeralda, a mãe, estava desaparecida há dois
dias. Na folga do motorista, ela foi guiando para a empresa após o café da
manhã, não chegou ao escritório para a reunião da assembleia, que votaria sua
sucessão. Ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Levantaram a hipótese de sequestro, acidente
no percurso de viagem para a casa de campo, lugar onde ela se refugiava com
frequência. Mas, nada!
Por cautela, ou medida de segurança, não podiam divulgar a
notícia. As ações na bolsa cairiam, prejudicando o andamento da empresa ou
atrapalhando as investigações. No entanto, os familiares e diretores não
receberam nenhum telefonema ou mensagem pedindo o valor do resgate.
O
celular dela estava na caixa postal até não responder mais. O delegado
conhecido da família aconselhou a esperar mais um dia. Alegou que
sequestradores, como estratégia, costumavam deixar as famílias mais ansiosas e
assim podiam negociar melhor o resgate.
Alberto, o filho mais velho e
provável sucessor da mãe, mostrava-se mais ansioso que todos, tinha certeza de
que seria o escolhido naquele dia. As horas passavam, o nervosismo tomando
conta da família. E assim, mais um dia se passou. Os filhos se instalaram na
casa, juntamente com os advogados, diretores financeiros e delegado, que a essa
altura já havia colocado em campo o famoso detetive Farofino, cujo trabalho
impecável jamais deixou um caso sem solução.
O
detetive montou o esquema para monitorar os telefones da casa, da empresa e
também dos filhos, estudou todo o trajeto habitual da vítima, investigou
empregados da casa e os homens da segurança. E até aquele momento, não havia
nada que chamasse sua atenção para a possibilidade de sequestro ou coisa do
gênero. Parecia mesmo uma incógnita aquele caso.
Já iam pelo quarto dia, quando Eugênia, a filha, começou a se
desentender com o irmão Alberto, culpando-o de ter adiantado a reunião do
conselho para tomar posse no lugar da mãe. A convivência entre eles começou a
ficar difícil. Nem os advogados, nem o delegado, não se intrometiam. O que
ficou notório era que Julio era o único que se mantinha calmo, e apesar de tudo
seguia tentando apaziguar os ânimos e procurava soluções para a situação,
inclusive não deixou de ir trabalhar algumas horas para solucionar algumas
questões urgentes, e também tranquilizar os funcionários.
O detetive Farofino assistia ao desenrolar dos
desentendimentos entre os filhos e tratou de aproveitar o descuido deles para
examinar os cômodos da casa, os dormitórios, os pertences pessoais de cada um,
o escritório no piso superior, os documentos, tudo. Farofino, atrevidamente,
abriu todas as portas, gavetas e nichos que encontrou. Depois disso, parecia
satisfeito com sua busca.
Ao acordarem no quinto dia, deram com a mãe Esmeralda na
cozinha tomando o café, ao lado do motorista. Estava bela e alegre como sempre.
Houve um alvoroço geral, todos falando ao mesmo tempo, fazendo perguntas,
querendo saber o que havia acontecido. Na sala de estar, os advogados, diretores,
delegado e técnicos estavam, igualmente, surpresos. Farofino não.
A
empresária disse, com voz firme, que foi um teste que fez para saber quem seria
a pessoa mais indicada dos três para a sucessão: “Já tenho a resposta, Alberto,
convoque o Conselho para hoje à tarde, que já tenho a minha decisão tomada”.
O detetive relatou ao delegado sobre sua descoberta no dia
anterior. A casa possuía o quarto secreto, munido de elementos de subsistência,
e toda a parafernália de monitores, sensores e ventilações. Lá eram
transmitidas o que todas as câmeras ocultas da casa captavam. E de lá, Madame
Esmeralda pode assistir a todo o desenrolar de seu “sumiço”. Com isso,
descobriu a intenção de cada filho e pode revelar o que cada um escondia. Sobre
o automóvel dela, ela combinou com o motorista de total confiança que
desaparecesse com ele, sem levantar suspeitas. Descobri o quarto secreto por um
descuido dela que manteve o som dos monitores alto demais. Prometi que jamais
revelarei onde fica esse cômodo.
Assim,
sem ter saído de casa, pode conhecer as atitudes dos filhos e reconhecer em
cada um o que havia de responsabilidade em relação à empresa.
À tarde, na reunião do Conselho, ela noticiou que
permaneceria por mais um ano como presidente, tempo em que ajudaria a preparar
o sucessor. Depois, passaria a presidir o Conselho Superior, importante órgão
de manutenção da retidão da empresa. E finalizou dizendo que seu filho Julio
seria o futuro presidente.
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