As Emoções Humanas: o medo - Yara Mourão

 




As emoções humanas: o medo.

Yara Mourão.

 

Aquele era um dia igual a todos os outros passados ali, em que os sonhos se fundiram às realidades para sempre inesquecíveis.

Francis permanecia muito quieto, contemplando a pista, absorto. Mal podia crer que atrás daquela vidraça seu grande momento o espreitava.

Seus pensamentos eram confusos; músculos, nervos, tudo estava tão rígido como nunca estivera antes.

Mirou o céu. Não havia nem uma nuvem no horizonte. Isso devia ser um bom sinal, pensou.  Sabia que esse era o momento pelo qual esperava desde a mais tenra idade. Ia, enfim, pilotar, sozinho, o fabuloso F-15, o caça de ataque da Força Aérea. Lembrou-se de tantos voos que fizera antes, competindo com a própria coragem, buscando um herói que não se sabia. Entretanto, desta vez era sem a companhia do instrutor de voo, nem mesmo de seu companheiro de treinamento. Era o seu momento mágico!

Lentamente percebeu que um leve tremor se instalara em suas mãos, umedecidas de um suor frio.

Francis fechou os olhos. Não ousara confessar a si que, na verdade, tinha medo de voar.

Os minutos corriam na batida acelerada de sua pulsação. Francis foi mergulhando no silêncio que sua memória trazia à tona, silêncio de murmúrios distantes. Nem se apercebeu da presença do Tenente-Brigadeiro Leonardo, se aproximando para cumprimentá-lo e conferir os horários. Os dois tapinhas nas costas que ele lhe deu quase arderam, e a fala: “Vamos lá, campeão, hoje eu quero ver o seu valor e brilho!”, latejou comum desafio.

Mas ele não queria saber nada de valor e brilho. Só sabia que um frio enorme percorria seu corpo e que sua vontade era correr contra o tempo, estar quatro anos, lá atrás, no dia do ingresso na Academia de Cadetes!

Seus olhos embaçaram, os joelhos fraquejaram.

Não havia retorno. Era chegado o momento. Então, abriu a grande porta de vidro e caminhou para a pista. Tinha de ir, já nem sabia mais por quê. E lá, no meio dos outros cadetes, estava o Tenente-Brigadeiro com um sorriso de mau-agouro.

Francis fez continência e dirigiu-se para o cockpit do avião. Colocou o capacete, limpou o suor do rosto, sentindo-se à beira de um abismo profundo, e disse para si: “Aquele imbecil do Leonardo que pensa que eu tenho medo, vai ver o que é valor e brilho!”

Não hesitou mais. Ligou as turbinas. O ruído ensurdecedor bloqueou-lhe os sentidos. Com os olhos semicerrados, pressionou os comandos de partida e, em segundos, seu F-15 sumiu no horizonte como se fosse um zéfiro de aço!

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