IMAGEM AMBÍGUA - Antonia Marchesin Gonçalves



IMAGEM AMBÍGUA

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Andando pelo corredor da Faculdade, observo uma pessoa que vinha no sentido contrário ao meu. Pensei, que mulher alta! Passando ao meu lado voltei a pensar, não é mulher, fiquei na dúvida. Na classe o professor precisou de suporte técnico para ligar o projetor, que fica no teto, e pede ajuda ao responsável do andar, e quem vem? A tal mulher ou homem.

                Com facilidade fica na ponta dos pés, aperta o botão e liga o aparelho, continuei na dúvida. Os assistentes não são uniformizados? A dúvida continuou. Homem ou mulher, os cabelos fartos, longos até os ombros, e com destreza tira o elástico do punho e o prende com um rabo de cavalo.

                Não são gestos delicados, mas também nem grosseiros a ponto de achar ser homem. Após a aula fui de elevador até o quarto andar para a aula de coral, e quem estava lá? A tal pessoa. Discretamente tento olhar para ver se posso definir o enigma, mas continuei com a dúvida.

                A pessoa é nova funcionária, nos outros anos eu não a havia visto. Ao sair da aula comento com as colegas sobre a minha dúvida, e pergunto se também haviam visto e tinham a mesma dúvida. Com exceção de uma que esclareceu que se tratava da primeira funcionaria trans contratada, e que se observasse bem tinha pequenos seios.

 

— Mas, é um homem trans, ou uma mulher trans?

E aí todas ficaram com a mesma dúvida.

                Nem sempre o olhar define o que se está vendo e desperta a nossa curiosidade.

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