O KARMANN-GHIA - Antonia Marchesin Gonçalves

 



O KARMANN-GHIA

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Alguns anos atrás, meu marido Luiz realizou o sonho de comprar uma propriedade na sua cidade natal, em Cafelândia, onde ele montou a empresa de beneficiar e armazenar café e com isso conheci mais a cidade e as pessoas. Sendo uma área muito grande dentro da cidade, inclui uma casa, após pequena reforma, podemos toda vez que lá vamos ter a tranquilidade de unirmos o útil ao agradável, ou seja, o trabalho com conforto de casa própria, pois a cidade fica a 400 km de São Paulo.

                Nas férias meu neto mais velho Bruno costumava passar uns dias conosco, numa dessas idas, passeávamos pelo centrinho da cidade e ele me chamou atenção para um carro esportivo vermelho parado em frente à loja de calçados. Curiosos, vimos que se tratava de um Karmann-Ghia antigo bem detonado, por dentro e por fora, o banco do motorista com um buraco enorme chegamos a comentar como alguém consegue sentar e guiar, imagine a falta de conservação. Em casa, no jantar a conversa versou o tempo todo sobre o carro, meu marido logo se interessou e resolveu no dia seguinte falar com o nosso gerente e por ser nascido e morador da cidade conhecia todo mundo.

                Revelou ser do dono da loja onde o carro ficava estacionado, um casal já com certa idade,  não tinham condições de restaurar e ainda o usavam todos os dias, tamanho amor pelo veículo. Desde 1971 o carro fazia parte da vida deles, único dono. No dia seguinte mostrei a ele e sugeri que fizesse uma oferta de compra e que através do nosso gerente intermediasse a negociação.

 

                Foram várias tentativas. Durante dois anos eles resistiram em vender, quando fecharam a loja devido o avanço da idade e problemas de saúde, aceitaram vendê-lo. Ao chegarmos à cidade após todo esse tempo, recebemos a notícia, querem falar com o senhor. Meu marido junto com o nosso gerente Luizinho, coincidência tem o mesmo nome, foram à casa do casal. Eles não esquecem a emoção que os donos se encontravam, prostrados disseram: Esse carro deu-nos muita alegria e orgulho, foi realização de um sonho tê-lo adquirido, fizemos lindas viagens com ele, lagrimas surgiam em seus olhos, só nos prometa que o senhor vai cuidar bem dele.

                Com a promessa feita, o carro veio com vários assessórios junto, sinal de que tinham a intenção de restaurá-lo. Com o início da restauração descobriu-se que a cor original era amarela-gema, através da internet conseguimos comprar peças originais e refizemos a parte dos estofados. Todos os dias nosso funcionário liga o carro e quando lá vamos, fazemos um passeio pela cidade e periferia é obrigatório, chegamos a ir almoçar na cidade vizinha de Lins várias vezes e chama atenção dos clientes que muitos pedem para tirar fotos.

                Ainda faltam algumas coisas para serem feitas, mas meu marido logo que puder quer trazer-lo para São Paulo para participar do clube de colecionadores, continuar restaurando para ter o direito da placa preta, que simboliza que todo ele com peças originais participando em Campos de Jordão e outras cidades serranas desfilando junto com outros poucos autênticos que seus donos têm orgulho em ter.

                Os antigos donos já faleceram, mas tiveram a certeza de nosso carinho com o seu bem querido.

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