O BAR DO JUCA
Suzana
da Cunha Lima
Juca
tomava conta daquele bar há muitos anos.
Tinha uma habilidade invulgar de misturar bebidas e batizava seus drinks
com os nomes mais exóticos e picantes: garganta
profunda, decote ousado, veneno mortal e por aí ia.
Também
era muito conhecido pela maneira com que tratava seus fregueses costumeiros,
sempre dando seus pitacos e levantando a moral de todos que encostavam a
barriga no seu balcão com ar sorumbático. Um psicólogo de plantão.
— É
mulher, dizia. E tem muita mulher no mundo, mas os caras cismam de ficar com
quem não os quer. Pode? – E lá vinha um conselho, uma observação ou uma
piadinha, a maioria das vezes com um fundo hilário, porque dizia que não se
deve dar confiança nem espaço para tristeza. – Espanta ela, xô! E o
freguês ainda ganhava um brinde, golinho de sua última invenção alcoólica.
“—
Larga de mão esta mulher, mano. Só vive de pondo cornos, já viu que não serve
mesmo. Olha a Bia que está sempre de olho comprido para você. Bonitinha e
trabalha, viu? Não é nenhum encosto.”
“—
Cara, foi a algum velório? Não me diga que voltou para Carol. Tu não tem jeito
mesmo, não é? Olhe, experimente minha última invenção, especial para você. Venenosa: O primeiro gole é de graça.”
Até
o dia em que ele foi trabalhar arrasado: a mulher tinha lhe dado um fora
homérico, jogado suas coisas na rua e batido a porta em sua cara.
E
agora? Quem ia consolar o Juca? Todos ficaram desolados, sem saber o que fazer.
Até que o Zezinho foi atrás do balcão e preparou uma batidinha com limão bem ardido
e foi consolar o amigo.
— Tem
muita mulher no mundo, Juca. Olhe em volta, a Bia continua lá. Tome um golinho desta invenção minha. Garanto
que vai passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário