O JOVEM BIÓLOGO AVENTUREIRO
Antonia
Marchesin Gonçalves
Desde pequeno Alberto gostava
que seus pais contassem historias sobre lugares pelo mundo. Por eles serem
professores de geografia e história o incentivavam-no aos livros dessas áreas.
Adolescente, já pesquisava sobre os pontos
geográficos mais pitorescos do planeta. Numa dessas deparou-se com a pequena
cidade de Étretat com apenas 407 km, pela sua paisagem à beira do Canal da
Mancha. O que mais o encantou foram, as falésias que cercam a região de Cotê
d’Albâtre, na Normandia. O encantaram, a ponto de ter fixado a ideia de que na
idade adulta iria visitar ao vivo tamanha beleza da natureza. Paredões rochosos
esculpidos pelo mar, que encantou grandes pintores impressionistas e a ele.
Apenas
formado em Biologia foi poupando de sua mesada até ter a quantia suficiente
para fazer a tão sonhada viagem. Comprou passagens para o cruzeiro cujo roteiro
incluía tal parada. No navio fez amizade com vários passageiros, mas nem todos
tinham o mesmo interesse pela tal cidade e suas falésias. No decorrer da viagem,
ele estudou o máximo que podia a respeito, sabia que só podiam descer quando a
maré estava baixa, onde podiam andar pelos arcos e visitar as praias.
Ao avistar do convés as
falésias, a emoção tomou conta dele, principalmente aquela visão que parecia um
mamute com a tromba dentro do mar como se bebesse água, indescritível. Desceu
junto com todos munido com sua mochila nas costas. Andou junto com o guia e
outros passageiros e quando foram chamados para voltar ao navio, ele como já
havia premeditado, se escondeu decidido a não voltar. Ficou escondido durante
uma hora até ver o navio que já estava em alto mar, e saiu. Sabia que tinha
poucas horas até a maré subir.
Prevenido na mochila levara
lanterna, uma machadinha de escalar, corda, algumas barras de cereais e água.
Perto do horário da maré alta, tentou achar algum paredão que pudesse escalar, localizou
um canto e subiu, só que a sua parca inexperiência não permitiu que chegasse até
ao topo, e a chance de ter que ficar a noite ali era grande. A sorte que ele encontrou
um recorte na pedra mais largo, assim ele conseguiria ficar sentado, não se
importou com o desconforto, tamanha felicidade de estar ali realizando o um
sonho. No fim da tarde, ainda claro a fome chegou e comeu uma barra para
enganar o estomago. Vai ser uma noite longa e não posso dormir e nem descer,
pois a maré já subiu, pensava.
Ainda calmo, quando escureceu
ligou a lanterna, o silêncio dominava na total escuridão e a única coisa que
ouvia eram as ondas que batiam com forças nas escarpas das falésias. Nas
primeiras horas ele só curtia a vista, a fúria das ondas, o luar refletido no
mar, estava inebriado. À certa hora porem começou a ventar muito, com rajadas
fortes que o assustou e para piorar o sono chegara, de tempos em tempos
percebia que cochilava. Pensou bastante se dormisse cairia com certeza e se
afogaria. Pegou a machadinha e usou de toda a sua força limitada pelo pouco
espaço, fincando-a firme na rocha, com a corda amarrada nela, enrolou a outra
ponta nele e com vários nós, assim se cair ficaria pendurado, quando
amanhecesse continuaria a subida ou desceria.
Foi a noite mais torturante que
passou A certa altura as pernas doíam com câimbras, tentava levantar, mas o
espaço era curto, entre um cochilo e outro, acordava assustado, com dor e frio,
esquecera de levar uma pequena manta, e na sua empolgação não lembrou do fogo
que seria primordial. Ao amanhecer comeu outra barra, bebeu água e constatou
que a maré estava baixando. Esperou baixar totalmente e resolveu não mais
continuar a subida e sim descer à espera da chegada do navio com novos
turistas, no mesmo horário.
Teve muita dificuldade em
descer, pois o corpo estava travado e com câimbras contínuas devido a posição
que permanecera a noite toda.
Quando viu o navio chegar não
imaginou o alivio que sentia, o guia o reconheceu e foi direto para a
enfermaria. Hidratado e medicado teve a certeza de que não basta gostar de
aventuras, jamais aventurar-se sozinho e ter todas as informações necessárias,
coordenadas para o sucesso delas, era o que acabara de apreender.
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