NUNCA
ENTRAR EM PÂNICO
Antonia M. Gonçalves
André sempre gostou e gosta até hoje de esportes
radicais. Pequeno, quando os pais deram a primeira bicicleta, não quis a
normal, mas sim a que era para praticar corrida em pista de terra e lama.
Montava na rua com os amigos rampas de madeira e pedalando subia com velocidade
máxima, fazendo manobras no ar. Tão desafiosas eram as manobras que chegou a
quebrar a perna em certa ocasião. Mesmo com a perna engessada não parou de
pedalar. Seus pais o levavam, sempre que podiam, em pista especializada com
a esperança que ele perdesse o interesse pela dificuldade do esporte, mas nada.
Acrescentou ele, a medida que crescia, o Skate, outro
esporte nada tranquilo. Com as mesmas rampas na rua, Ia de skate sempre
correndo riscos, a ponto da ousadia de se segurar na traseira dos ônibus em
movimento. “Sou radical, provavelmente pensava, não tenho medo de
correr riscos.” E esse radicalismo o levava a procurar mais aventuras. Quando
os pais adquiram o apartamento na praia, acrescentou novo amor esportivo, o
Surf.
Desde pequeno aprendeu a nadar e apaixonou-se pelo mar,
as ondas nunca o amedrontaram e convenceu-os a comprar a sua primeira prancha
de surf. Surfa até hoje, sendo pai e casado não consegue ficar mais de quinze
dias sem entrar no mar. Tamanha paixão corria riscos, a ponto de entrar com
chuva e ficar mais horas que o corpo humano suporta, foi assim que quase perdeu
a vida. A mãe no período de férias vivia em constante aflição, sempre atenta ao
destemido filho. Certo dia depois de passar a manhã e o começo da tarde na
praia, querendo voltar para casa foi a procura do André no mar e não conseguia
distingui-lo, começou a sentir uma angustia grande no peito, andando a beira-mar
foi até quase o final da praia da Enseada no Guarujá, quando avistou o filho
retornando com a prancha na mão com um ar assustado, ela nervosa quase gritando
disse-lhe o quanto a deixara aflita com sua demora.
“Mãe, calma quase morri. Fiquei tanto tempo no mar que
cansado não conseguia voltar da arrebentação e para não entrar em desespero, lembrei-me de seus ensinamentos,
que sempre recomendou a nós filhos, que em momentos de perigo nunca entrar em
pânico, pois isso acabaria nos matando, sentei na prancha e deixei as ondas me
levarem até quando uma lancha que passeava me resgatou e consegui voltar”.
Depois desse episódio, não deixaram de existir outros,
mas o André apreendeu a ter mais respeito aos limites do corpo e da natureza.
Agora quarentão adquiriu também a prática de esquiar nas montanhas do Chile no
inverno, não tem jeito a mãe só pede ao Anjo da Guarda dele que esteja sempre
atento.
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