ALICE,
A PEQUENA INVESTIGADORA
Antonia M. Gonçalves
Desde pequenina Alice tinha os olhinhos muito espertos,
conseguia perceber todos os movimentos a sua volta, e a qualquer ruído ela virava a cabecinha na direção
certa, diziam seus pais.
A medida que crescia ela desenvolvia os outros sentidos
com muita rapidez e inteligência, o que
preocupava os pais, tinham medo que ela tivesse problemas, dissabores na vida, com sua perspicácia apurada.
Moravam em um condomínio de casas de médio padrão onde quase
todos se conheciam. Uma das casas estava a venda, e Alice torcia para quem a
comprasse tivesse filhos. Quando a venda
foi realizada, Alice foi foi perguntar
para o corretor de imóvel quem era a família que a comprara. São estrangeiros, árabes provavelmente, não
falam bem o português e as mulheres todas usam o lenço na cabeça e algumas têm até
o rosto todo coberto. Isso só aguçou mais a curiosidade de Alice. Como pode
alguém ficar com o rosto coberto? Isso é pra lá de estranho pensou.
Leitor contumaz de livros de espionagem, detetives e
investigações, sua imaginação começou
correr solta. Preciso investigar essa
família – pensava sem parar. Voltando
da escola tentava espreitar a casa dos estrangeiros, fingia que estava levando o
Clark para passear e tentava chegar mais perto possível. Não via movimento no
quintal e nem de crianças brincando. Com tantas mulheres deve ter crianças ai
dentro pensava. Depois cogitou de a noite sair às escondidas para chegar mais
perto sem ser notada. Na primeira oportunidade, enquanto todos dormiam, pé ante pé saiu, ela abriu a porta e foi com
cuidado para o quinta. Acendeu a lanterna do celular, e seguiu sorrateira. Mas esqueceu-se do guarda noturno, que fazia a
ronda do condomínio, ele a viu e se aproximou perguntando: Alice o que esta fazendo aqui a essa hora,
menina?. Levou um belo susto, quando se recuperou arranjou logo uma desculpa,
como algo que havia perdido. Deu boa noite, e voltou para casa altamente
frustrada.
Preciso saber o horário do guarda assim poderei
investigar sossegada. E assim o fez, aproveitou a ausência dele e voltou à sua
atividade investigativa. Sabia que as janelas
da sala eram suficientemente grandes e baixas, o que facilitaria enxergar o que
acontecia lá dentro. Foi aí que pode ver vários homens reunidos sentados em tapetes.
São tão pobres que não podem comprar cadeiras? – pensou enquanto observava que
usavam turbantes e havia uma espécie de jarra com uma mangueira comprida em que
eles levavam à boca e depois soltavam uma fumaça estranha Que chá estranho! Pensou.
Mas não viu nenhuma mulher. Deslizou devagar para a outra janela que dava para
outro cômodo da casa. As mulheres todas
juntas a porta fechada. Será estão presas? Questionou. Não parece, parecem tranquilas conversando. Ponderou. Elas usavam
a mesma jarra com mangueira igual dos homens. Podem ser usuários de drogas,
farei uma denúncia na polícia. E assim o fez. Acreditou que tivesse salvado o
condomínio de pessoas perigosas e estranhas. Mal sabia ela que a polícia
chegando na casa não viu nada anormal ou irregular. E fazendo as investigações chegaram ao telefone
de sua casa, foram falar com os pais de Alice que surpresos negaram qualquer
denúncia, mas como conheciam a filha, chamaram-na para que contasse o que havia
feito. Confessando, ela foi obrigada
pelos pais e policiais, como castigo, estudar tudo sobre os costumes árabes e
também se retratar perante os vizinhos pedindo desculpas pelo constrangimento
que os havia feito passar.
Eles foram muito educados e ensinaram a ela que aquela
jarra chamava-se Narguilé e era um tipo de fumo tradicional árabe, convidaram
Alice e família para um jantar árabe muito gostoso e as moças mais jovens se
apresentaram com a dança do ventre.
Alice aprendeu a lição, nunca mais tirar conclusões precipitadas
sem antes se informar com precisão de tudo.
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