A
LOIRA DO SOBRADO
Sérgio Dalla Vecchia
Loira, cabelos curtos
Chanel, corpo escultural e exibicionista incontrolada.
Gení, todos os homens do
bairro a desejavam. Motivos para tanto não faltavam.
Adorava colocar-se por
detrás da cortina transparente, que fechava o vão da porta balcão do quarto. Ocorria
todas as tardes após o banho.
O aposento ficava no andar
superior do sobrado, com vista para a rua, num pitoresco bairro de classe
média. O transeunte tinha uma visão total do quarto.
Performava-se apenas de
calcinha. Por vezes deixava à mostra uma das pernas, ora um seio, ora as costas
e raramente o rosto. Tinha prazer em provocar!
Nesse período da tarde o
movimento na calçada era intenso. Na maioria homens que até tropeçavam pela virada
do pescoço em busca daquela visão erótica.
Um de seus admiradores era
Cássio. Sério, de poucas palavras e pedestre rotineiro da calçada.
Gení era novata no bairro.
Havia se mudado há três meses. Pouco saia de casa.
Uma diarista fazia compras do
mercado e padaria. Portanto nada se sabia dela.
Era apenas conhecida pela
impecável exibição.
Certo dia no auge da
performance apareceu uma viatura policial, dela saiu um agente, tocou a
campainha e logo entrou no sobrado.
—Você está presa Gení. - O
povo ouviu da calçada.
A exibição foi paralisada.
O agente e Gení discutiam enquanto ele queria algema-la.
Nisso já se iniciou um
tumulto em sua defesa. Os espectadores estavam revoltados da injustiça com a
musa dos pedestres.
Cassio o mais exaltado,
resolveu subir e salvar a moça do atroz policial.
De um pulo invadiu o
sobrado sob aplausos da plateia.
O povo aguardava ansioso pelo
desfecho. Foi quando sai Gení de braços com Cassio e o policial debatendo-se
toda. Notava-se que Cassio constrangia-se com a situação. Até que ela foi
colocada na viatura com muito esforço.
A viatura partiu. O olhar
de Cassio era de indignação. Olhava para o nada. Estava muito abatido.
Um espectador curioso:
—Minha
deusa foi-se embora! Estou inconformado! Queixou-se Cássio.
—Que fez de errado, Gení?
Insistiu o homem.
—Roubou a bilheteria do
teatro onde trabalhava.
—Nossa! - Exclamou o
curioso.
— E para maior surpresa
seu nome é Juvenal! Um ladrão perigoso.
O desapontamento do povo
foi imenso.
Pasmos, em compulsão
imediata atiraram pedras na janela da Gení. Não por ser Juvenal, mas pela falta
que fará!
Cássio
atirou a primeira!
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