Buraco Negro - José Vicente J. Camargo



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Buraco Negro
José Vicente J. Camargo

− Mãe! - Chama Paulinho entrando em casa vindo da escola onde cursa a 4ª série, nos seus 10 anos de idade - Escuta só! A aula de ciências hoje foi o máximo. A professora prestou uma homenagem ao grande físico inglês Stephen Hawking que morreu outro dia aos 76 anos. Ele fez grandes descobertas sobre a origem e evolução do universo, desde o “big-bang”, a baita explosão que deu origem a tudo, até a tal teoria dos “Buracos Negros”, prevista por Einstein mas confirmada por ele. Disse que se o universo teve um início, terá um fim. O cara tinha uma mente de gênio. E o mais bacana, era que ele fez todas essas descobertas pilotando uma cadeira de rodas elétrica super equipada com computadores. Isso porque quando jovem, teve uma doença rara de nome esquisito que causa fraqueza e atrofia muscular.

− Paulinho! Já lhe disse para não me interromper quando estou concentrada no WhatsApp. Estou perguntando às minhas amigas do condomínio, se não sabem de uma manicure.  A minha fugiu   com o namorado para a Bahia. Não me pergunte  por que, não tem idade para isso. Se o assunto, pelo que ouvi, é “buraco”, pergunte ao seu pai. Você sabe que ele é “ban ban” nesse jogo, campeão da turma do carteado. Ele tá na cozinha lendo jornal.

− Pai! Hoje a aula de ciência foi de arrasar. A profes...

− Já sei Paulinho! Você fala tão alto que deu pra escutar você falando com a mãe. Mas agora estou concentrado nessa notícia sobre as chances do “Verdão” conquistar a Libertadores. Já disse pra você mudar de cor. Nada de alvinegro! Seja “verdão” como a Amazônia: bravia, potente, maior riqueza do Brasil!

− Mas, pai. Não há time que se compare com a fantástica mente do Hawking. Além das suas contribuições à ciência, desvendando os segredos do universo, ele exerceu um grande fascínio no público de todas as idades, principalmente através de seus livros, todos best-sellers, onde ele expôs os complexos segredos do cosmo de uma maneira mais compreensível aos leigos.

− Meu filho! Eu, na tua idade, brincava com a molecada na rua antes e depois da escola. Buraco negro pra mim, é o apelido que eu dei ao melhor jogador de bolinhas de gude da galera. Buraco porque não errava um, encaçapava todos. E negro, por que era de cor. Ele tinha o poder de atrair as bolinhas para si e, com uma estocada só, as metia no buraco, ganhava, e ia tirando-as do jogo, escondendo  nos bolsos.

− Pai! Que coincidência.! O seu buraco negro daquele tempo, tem o mesmo princípio que o “Buraco Negro” que o professor Hawking ajudou a desvendar. Vai sugando, por atração, os corpos celestes que estão ao seu redor, para seu interior, e desaparecem.

− Hawking pode ser é o seu herói! O meu era John Wayne, cowboy que não deixava um índio de pé, nem bandido sem forca. Fortão e corajoso como Tarzan, rei da selva, onde vivia e era seu universo: misteriosa, impenetrável e desconhecida.

− Pô, Pai! Que bacana, tem jeitão de cosmos. Vou pesquisar no Google mais dicas sobre seus heróis...

− Nada disso! Primeiro, vai lavar as mãos pra almoçar! Diz a mãe de passagem pro fogão para esquentar a boia.

Neste ínterim o pai exclama:

− Mué! Esse moleque puxou mesmo o pai:
    “Sabe tudo!”...



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