USO DE CÓDIGOS
Oswaldo Romano
Esses fatos
são reais e tem origem em acontecimento que alguém aprontava. Troquei o nome do
verdadeiro personagem, para evitar sensibilidades. Aqui Márcio é um epiteto.
Na loja.
Acabamos adotando o nome Márcio, como podia ser
outro qualquer, sempre que surgia algum freguês papo-furado ou maçante. Já
conhecido ou que se revelava no primeiro contato, a gente passava o dito cujo
para um balconista assim:
— César (nome do balconista), quer fazer o favor
de atender aqui o seu Márcio.
Aí o freguês contestava:
— Meu nome não é Márcio, é José. Márcio é meu pai.
(coincidência).
— Oh, desculpe o engano.
Nessa altura, o vendedor já tinha entendido tudo.
Era chamado um balconista mais tolerante, como o César ou o Mariano, que
acabava fazendo boas vendas também para os Márcios que apareciam.
Com o tempo, a alcunha de Márcio pegou pelo bairro!
Por muito tempo, quando alguém contava aquela lorota ou era um chato, logo era
chamado de Márcio. Só que poucos sabiam da sua origem.
O nome era muito conhecido pelos andantes da Vila.
Quando assim chamado logo vinha a defesa:
— Oh cara. Eu não sou Márcio, não!
Quando montei a loja, criei um código para marcar
as mercadorias, uso comum no comércio e praticado pela maioria dos
estabelecimentos. Útil como hoje é o código de barras. A prática constante
deste código acabou diversificando sua finalidade. A letra A é a segunda letra desse nosso código, porém a classe A
no convívio social é conhecida como de primeira categoria. Então quando o
distinto, um freguês, um fornecedor, um gerente de banco, enfim qualquer outro
se mostrasse ser um "Márcio", logo recebia a categoria "freguês
classe A". (segunda categoria) E... ficava todo satisfeito!
A parte engraçada era na avaliação de preço para o
freguês.
Veja este diálogo:
O freguês: — Sr. Roma, por quanto o senhor me faz
este aparelho de lavatório?
Eu: — O preço certo é 20, mas para você continuar
cliente vou fazer 17, o preço antigo, tá
bom? (preço marcado em código).
Ele: — Dezessete é o preço, vinte o amigo chutou!
Eu: — Não, não chutei, não. Quer ver?
Eu: — (agora me dirigindo a outro balconista por
perto):
— Mariano, Á... á... Á... quanto devo vender esta torneira?
Resposta imediata:
— 20 - gritava
Confiança adquirida, mercadoria vendida e todos
ficavam contentes. Lembre-se de que o A é
2 e não seria possível só 2, nem 200, daí o 20 respondido ao pé da letra pelo
balconista que sabia como jogar, ou tinha noção do preço.
Usávamos também outras palavras que punha o perguntado
em atenção, ou atenção de perigo. Um exemplo, aproximando-se alguém que
inspirava cuidados, ligava para qualquer dos gerentes e perguntava:
— Testou a lâmpada.
Imediatamente comparecia onde eu estava e dizia:
— Testei sim. Só falta verificar estas.
Ficava por perto, ou assumia o problema.
Quando longe, acionava outro funcionário.
Esses fatos tem origem em acontecimento que algum Márcio
aprontou. E como aprontava...
Certo dia ele debruçado no balcão expondo sua
irreverência, um balconista menos paciente soltou:
— Mas você é Márcio mesmo, hein!
— Claro, faz tempo você me conhece.
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