O DESTINO DE FERNANDO - CONTO COLETIVO 2025

 


O DESTINO DE FERNANDO
Conto coletivo em andamento.



PERSONAGENS:

Virgínia / Evandro / Jorge, pai dela / Fernando, filho de Virgínia e Evandro.

DETETIVE: Lenita Fragoso

CENÁRIO INICIAL: Rio de Janeiro – Copacabana


CENÁRIO FIXO: Cidade de Lapinha em Minas Gerais



O DESTINO DE FERNANDO


Trechos elaborados por:

Ledice Pereira, Yara Mourão, Silvia Villac e Suzana da Cunha Lima

 


A VIAGEM INESQUECÍVEL

CAPÍTULO I

 

Estava amanhecendo quando o ônibus chegava ao Rio de Janeiro vindo de Lapinha, Minas Gerais. Uma tênue nuvem de ocre transparente cortava na horizontal o céu, criando uma silhueta mágica no perfil da cidade.

Virgínia esfregava os olhos, já se maravilhando com a impressão fantástica que tudo lhe causava. Sempre imaginara estar numa grande cidade, de arranha-céus, avenidas movimentadas, com muitas pessoas caminhando apressadas, agasalhadas num frio estrangeiro.

Sua imaginação era, e sempre fora, muito maior que a realidade.

Naquela manhã de dezembro, entretanto, o Rio fervia num calor quase insuportável, que há dias pairava no ar. Mas tudo ali estava posto para grandes acontecimentos, grandes encontros.

Como que para fazer jus à fama da “Cidade Maravilhosa”, tudo se deu muito rápido para Virgínia.

Ela mal podia acreditar que estava ali, naquele momento mágico com que sempre sonhara. Ela que vinha de cidade inexpressiva, de onde nunca saíra. A vida na fazenda lhe proporcionava fartura. Mas almejava mais, queria viajar conhecendo outros lugares. Receoso, Jorge, seu pai, concordou em satisfazer a vontade da única filha, permitindo que ela passasse aquele réveillon de sonhos em Copacabana, Rio de Janeiro.

Foi ali, naquele cenário encantador, embalada pelos fogos que coloriam o céu de Copacabana que ela conheceu Evandro, um belo rapaz que a cativou instantaneamente pela simpatia, gentileza, cavalheirismo e charme.

A “arte do encontro”, como dizia o poeta, consolidou momentos felizes, com brinde de champagne e votos de um feliz ano novo.

Sob o efeito da bebida, brindaram e pularam as sete ondas e quantas mais vieram. O breu da noite era quebrado apenas pelo luar esplendoroso que fazia companhia para o casal. Quase não conversavam mais, havia urgências dentro deles. Embalados pelo momento, ali ficaram até adormecerem profundamente. Ela acordou com o sol nos olhos, estava feliz, não queria se preocupar em entender que havia passado a noite ali com um homem encantador.

Ele dormia ainda, sua exaustão o deixava ainda mais atraente. Ela se ergueu lentamente, sua roupa estava encharcada de água e areia, decidiu ir embora, precisava de um banho, não queria que ele a visse assim. Saiu devagar arriscando pequenas olhadelas para trás. Mais tarde, percebeu que não mencionou onde estava hospedada, nem anotou o telefone dele.

Voltou lá outras vezes, mas não o encontrou. Virgínia saboreou esse réveillon por dias! Parecia até um sonho! Os dias se passaram, ela estava intrigada com o acontecido naquele primeiro de janeiro, guardando para si a imagem do rapaz que ficou registrada nas selfies tiradas antes daquela meia noite.

Mas, essas nuances foram se dissipando à medida que o tempo passava, até quando ela se viu voltando, meio realizada, meio frustrada, para sua cidadezinha mineira, banhada por um belo rio, rodeada de montanhas, alheia a ventos futuros.

Virgínia voltou para casa, mas não voltou sozinha. Trazia, junto com muitas lembranças de Evandro, um filho em seu ventre que logo ela tomaria conhecimento.

Apesar da surpresa e certa indignação, o velho Jorge a apoiou como sempre o fazia desde a morte da mulher. Ele sabia da importância do avô na vida da criança, procuraria substituir a figura paterna que, certamente, não conheceria.

E assim nasceu Fernando, longe de um pai que nem o sabia, mas que estava em algum lugar, aguardando o destino.

A proximidade com a terra, com o gado, com a vida rural, levou Fernando para a área de Veterinária, e seguiu cursando a Universidade Federal de Minas Gerais.

Entretanto, a ideia de conhecer o pai, cujas fotos a mãe lhe mostrara, era uma constante na vida do rapaz que só aguardava o momento certo para isso.  

 

 

EM BUSCA DO PASSADO

CAPÍTULO II

 

 

Quando cursava o último ano da Faculdade, vô Jorge o presenteou com uma viagem para o Rio de Janeiro, para que conhecesse as maravilhas da cidade litorânea, e também pudesse investigar o paradeiro de seu pai. Sobre ele, Fernando sabia o que sua mãe lhe dissera:  que chamava Evandro, que era empresário e que deveria ter por volta de quarenta e cinco anos. Para isso adiantou-lhe uma boa quantia, a fim de que pudesse contratar um detetive particular, já que não conhecia a cidade e nem saberia por onde começar a busca.

Era como procurar uma agulha no palheiro. Mas, o jovem, entretanto, era obstinado e resolveu entrar de cabeça em busca do antigo sonho.

O primo de segundo grau, Ary, advogado experiente, indicou uma detetive muito conceituada no Rio, oferecendo-se para ajudar no que fosse necessário.

Foi assim que Fernando conheceu Lenita Fragoso a quem relatou sua história. Na verdade, a história de sua mãe, mostrando-lhe as fotos no celular, selfies tiradas por Virginia naquele réveillon. A profissional o escutou atentamente enquanto fazia anotações num caderninho preto.

O rapaz sentiu-se esperançoso. A detetive tinha lhe passado uma ótima impressão - comentou com o primo.

Baseada em suas anotações, Lenita logo colocou a mão na massa, passando a investigar todos os empresários de nome Evandro que atuassem no Rio e em São Paulo. Surpreendeu-se com o grande número de indivíduos com esse perfil. Tinhosa que era, tratou de pesquisar traços da vida de cada um, colocando Fernando a par do curso das investigações.

Porém, o tempo passou muito depressa. As férias do jovem estavam terminando e ele teria que retornar, mas deixava em boas mãos a elucidação de algo que, para ele, era primordial. 

 

 

UM VETERINÁRIO BEM SUCEDIDO

CAPÍTULO III

 

Tão logo se formou, Fernando conseguiu arrumar um emprego em um haras localizado em Vassouras, cidade a pouco mais de 100km do Rio de Janeiro. Sendo ele um veterinário de animais de grande porte, os cavalos sempre foram sua maior paixão.  

Fernando estava orgulhoso de ter arranjado esse emprego - tudo havia sido acertado on-line, curriculum, entrevistas com o administrador, salário e horário de trabalho.

Finalmente o dia de sair de casa chegou e, com um misto de alegria e incertezas, ele partiu para Vassouras, onde o destino lhe “pregaria uma peça” e tanto!

E logo estava sentado no ônibus que o levaria à cidade chamada Princesinha do Café, e aquele frio na barriga foi substituído por um vendaval de emoções. Embora tivesse pesquisado um pouco sobre ela, sempre o desconhecido o afetava assim.

Como o povo do local o receberia?  Como seria a cidade, quanto à diversão, restaurantes e garotas!  Sim, Garotas!  era um rapaz fogoso, em plena juventude e queria se divertir como qualquer rapaz de sua idade.

Sabia do charme da cidade, de suas históricas fazendas de café e a possibilidade de tédio naquele lugar era quase inexistente.

À medida que chegava, mal conseguiu observar direito a paisagem por onde estava passando. Cada vez mais excitado, finalmente o ônibus parou na  rodoviária local e o motorista gritou: Vassouras!

Bom, agora é pra valer mesmo – pensou – Vamos lá, Vassouras! Me mostre o que tem de bom!

Saltou do ônibus, pegou sua mala e olhou a paisagem em frente, encantado mas um pouco receoso. Mal sabia que tinha muita razão para isso... 

Fazia muito calor apesar de o relógio da igrejinha mostrar 18 horas. O ar denso parecia estar nas costas de Fernando. Ele estava cansado, ansioso para saber onde seria seu pouso naquela noite.  Ouviu o lamento do sino anunciando a Ave-Maria. Lembrou do avô tão religioso, tão positivo. 

Com os pensamentos e as lembranças se misturando na memória, Fernando decidiu abraçar a própria história naquele momento. Começou a alinhavar todas as emoções, as esquecidas alegrias, e construiu no espaço de uma manhã, a sua fortaleza.

Com a determinação de lutar batalhas e vencer as guerras, traçou os rumos que queria seguir: a primeira coisa seria se instalar. Não hesitou em se estabelecer na pousada mais próxima do haras. Não era exatamente o que havia imaginado, mas isso já não importava. Precisava estar próximo daquele local para tentar conseguir regularizar sua situação no trabalho.

Na manhã seguinte apresentou-se ao haras e soube que, dentro de uma semana, um evento bem interessante ocorreria ali: seria o dia dedicado ao Bem Estar Animal, quando todos os cavalos seriam devidamente examinados, vacinados, banhados e preparados para uma competição.

Esta lhe pareceu uma ocasião bem propícia para se mostrar sua capacidade de atendimento de qualidade, no posto de veterinário visitante que o haras estava oferecendo.

Ele se inscreveu de imediato, confiante de conseguir um lugar.

Realmente, teve uma aceitação unânime.

Assim foi que na manhã de seu primeiro dia o nascer do sol o encontrou já de pé na varanda da pousada. Estava seguro de ter feito a coisa certa. Mas algo o estava deixando tenso: recebera na véspera uma carta de Lenita Fragoso.

Ela falava de suas pesquisas, as buscas que fizera; comentava as possibilidades, as coincidências e os enganos que encontrara. Gentil, ela se despedia com um abraço. Mas havia um P.S. que assinalava uma informação intrigante: “dentre os Evandros pesquisados, encontrei um que ama cavalos de raça e possui um garanhão que costuma participar de competições e ganhar prêmios.”


OS TRECHOS ABAIXO - AINDA MUITO CEDO PARA INSERIR NA HISTÓRIA - FICAM COMO DIRETRIZ PARA UM FUTURO PRÓXIMO DE VIRGINIA:




O NOVO MUNDO DE VIRGÍNIA

Capítulo IV


A vida de Virgínia, após o nascimento de Fernando, resumiu-se em cuidar dele e ajudar o pai na fazenda. Os afazeres tomavam quase todo seu dia, fazendo com que ela não tivesse tempo de ver a vida passar.

Acordou quando Fernando foi para Vassouras. Sentiu um imenso vazio. Mesmo quando ele cursava a Universidade, ela podia estar com ele em alguns finais de semana ou ao menos uma vez por mês. Mas agora, a distância era maior.

Aos quarenta e poucos anos, desejou mais. Conhecer pessoas, viver a sua própria vida. Havia parado os estudos quando de sua gravidez e nunca mais voltara para a Universidade, à época, trancada, embora o pai a tivesse estimulado a voltar.

Conversou com Jorge. Demonstrou sua vontade de retornar aos estudos. Ele, mais uma vez, a apoiou.

Passou a estudar assiduamente, com o intuito de prestar vestibular na metade do ano. Gostava mais da área de humanas. Nesses anos todos, havia devorado uma quantidade de livros. Ler era sua paixão e única diversão. Empenhou-se com ideia fixa.

Quando Fernando recebeu mensagem da mãe, contando a novidade, deu-lhe o maior apoio.

Havia momentos em que ela se questionava.

Pensativa, sentada na varanda da casa, se pôs a fazer uma retrospectiva de sua vida ao longo desse espaço de tempo.

A sensação que tinha é que o tempo havia sido congelado e que nada de muito proveitoso havia feito. Desde que seu filho nascera, vivera exclusivamente em função dele e, quando o menino cresceu, sua vida virou-se em direção do pai que, já mais velhinho e com limitações, precisava de uma maior atenção.

“O que eu fiz com minha vida?” perguntou-se ela. Tenho a sensação de ter me anulado, talvez como uma punição por ter sido mãe “solo”. Sempre cuidando de outros e sem prestar atenção à minha pessoa!

Então lembrou-se do trabalho voluntário na Associação de Combate ao Câncer. Duas vezes por semana ia para a cidade para fazer o trabalho burocrático, de secretária, administradora e levantadora de fundos, promovendo bingos, bazares, sorteios e tudo o mais que pudesse gerar alguma verba para ajudar no pagamento de remédios não custeados pelo SUS e na distribuição de cestas básicas para as famílias menos favorecidas, além de promover festas em datas festivas, como páscoa, natal e dia das crianças.

Não, sua vida ao longo desse tempo não tinha sido em vão. Os fazendeiros da região que o digam, já que sem qualquer pudor, pedia um SOS a eles para poder ser mais proativa – sem a verba obtida através deles, teria sido impossível alcançar seus objetivos.

Com a Associação mudando sua sede física para Vassouras, uma cidade maior, ela decidiu que também era hora de uma nova mudança em sua vida.

Mudou-se para lá onde também estaria perto de Fernando. Cortou os cabelos, emagreceu 7 quilos e matriculou-se em um cursinho pré vestibular. Seria Assistente Social e, quem sabe, se tornaria a presidente de sua querida Associação...

 


3 comentários:

  1. Anônimo1/22/2025

    Um promissor começo do que pode se transformar num belo romance
    Mãos à obra! Suzana

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  2. Anônimo2/03/2025

    Uau, não é que está surgindo um pequenino romance? Estou curiosa com o rumo que a história vai tomar.

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  3. Anônimo2/03/2025

    Não consegui assinar o comentário anterior. LEDICE.

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