Um Senhor Natal - Adriana Frosoni

 




Um Senhor Natal

Adriana Frosoni

 

José Natal voltava de mais uma caminhada matinal, a passos lentos. Ele era um solitário, não por opção. Seus dias, preenchidos por leituras e cuidados com o jardim, começaram a parecer mais longos. A solidão torturava-o. Sentia a distância dos filhos, que se casaram, mudaram de cidade, e até de país. Pesava-lhe também o falecimento da esposa e de alguns amigos. Entretanto, a chegada dos feriados do final do ano agravava essa sensação.

A comemoração do Natal era especialmente difícil para ele, pois além de ser uma data cheia de significados, coincidia com seu aniversário. O vazio que sentia neste dia, que deveria ser cheio de amor e celebração, tornava-se ainda mais áspero.

Porém, naquele final de ano, José decidiu que não iria enfrentar mais uma Noite Feliz triste e solitária. Em um momento de impulso, tomou uma decisão inusitada: ligou para uma agência que trabalhava com personagens para eventos, inclusive com o tradicional Papai Noel, e pediu algo diferente. Em vez de contratar o Bom Velhinho, ele queria “alugar uma família” para a noite de Natal. A atendente ficou surpresa com o pedido, porém, resolveu levar o caso para o gerente e juntos perceberam que poderia haver ali uma boa oportunidade de negócio. Aceitaram o pedido.

José Natal preparou tudo como se fosse para seus verdadeiros familiares e quando chegou a noite do dia vinte e quatro de dezembro, uma família fictícia, composta por um casal, duas crianças e até uma simpática avó, chegou à porta dele. A casa transformou-se com as risadas e as conversas.

Ele voltou a experimentar a alegria do Natal. Havia sinceridade e gratidão nos abraços que recebeu das crianças, que não esperavam receber presentes. E o calor que sentiu no coração ao fazer uma ceia rodeado de vozes e alegria, foi muito reconfortante também.

Embora soubesse que aquela família não era real que a noite chegaria ao fim, José se entregou à alegria e à companhia encontradas de maneira inusitada. Aquela experiência iluminou sua noite, e provou que mesmo no fim da estrada, a solidão não precisava ser o único caminho.

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