SONO PESADO
Sergio Dalla Vecchia
Chicão, trabalhador da
indústria em São Paulo cumpria uma jornada árdua em uma grande tecelagem.
O cansaço ao fim do dia era
tanto, que mal dava para tomar uma dose de cachaça no boteco da esquina.
Porém, ele estava a ponto de
perder o emprego, devido a algumas advertências por atraso.
Não havia como acordá-lo, nessa
época não existia despertador, nem galo ele tinha mais, pois certa madruga
incomodado com o canto da ave, acertou-lhe uma pedrada que o transformou em boa
sopa no dia seguinte. A janela antiga não possuía vidro, assim não podia deixá-la
aberta e despertar com a luz da alvorada. Ainda mais não contava com a esposa, ela
dormia em quarto separado, por não suportar mais seu ronco. Até falaram em separação.
A solução seria contratar um
batedor, figura que em troca de algumas moedas incumbia-se de despertar as
pessoas. Era o despertador da época!
Assim o fez, e logo na
madrugada seguinte sua janela recebeu uma saraivada de pedrinhas, atiradas por um
canudo assopradas pelo homem despertador. Nada, Chicão nem piscou os olhos! O
batedor foi para o plano B. Com uma vara comprida, bateu uma, duas e três vezes
e nada do dorminhoco levantar-se!
Com a paciência no limite, o
homem tentou uma última alternativa que acreditava ser infalível, já havia
aplicado em outra ocasião e deu certo. Ele tinha o orgulho de nunca ter deixado
seus clientes perderem a hora e não seria o Chicão que iria desmoralizá-lo.
Colocou seu cone metálico na
boca e gritou para toda a vizinhança ouvir:
— Sr. Chicão, já que senhor não levanta, estou
levando sua mulher comigo!
Do nada, em segundos uma
janela se abriu bruscamente e dela surgiu o dorminhoco atônito.
O invicto batedor com um
sorriso sarcástico logo disse:
— Bom dia Sr. Chicão, tenha
uma ótima jornada e aproveite para acordar sua mulher. Era brincadeira. Ah, Ah,
Ah!
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