Lamberto, o esperto
Adriana Silva Frosoni
Já acostumado ao peso das
inúmeras doenças que carregava juntamente com sua vultuosa fortuna, Lamberto
deparou-se com mais uma patologia: atrofia deformante. Muito vaidoso, ele preocupou-se
em resolver mais essa enfermidade e começou pedindo para o mordomo incluí-la na
listinha que ele mantinha para não esquecer de nenhuma, sem deixar de lado a
ordem alfabética.
Além dos médicos locais, ele
sempre recorria ao um curandeiro árabe, então partiu para o Egito com o
objetivo de vê-lo e de lá voltou com as seguintes orientações: deveria tomar um
chá das pétalas da flor de lótus, mas esta deveria ser selvagem, não cultivada,
e apanhada no pico do Himalaia. Para tanto, ele contratou o melhor alpinista do
mundo, deu-lhe todos os recursos necessários e aguardou sua volta.
Concomitantemente, surgiu
mais um problema ao qual Lamberto também estava acostumado: um bando de trapaceiros
dizendo ser seus filhos e querendo parte de sua riqueza para não lhe causar maiores
problemas. Além de rico, Lamberto era muito esperto, então disse aos
trambiqueiros que estava disposto a pagar pelo próprio sossego e fazer com que
eles se afastassem, mas que o faria apenas àqueles que conseguissem trazer-lhe a
flor de lótus selvagem do Himalaia. Como ele já imaginava, foi um festival de
sabotagem: um puxando o tapete do outro, um corre-corre danado e ainda lhe
trariam as flores do lugar mais próximo que encontrassem.
Quando ele recebeu a flor
correta, tomou seu chá e, de pronto, percebeu que faria efeito, afinal, ele
tinha extensa experiência com enfermidades e remédios. Mas quando os farsantes
apareceram com a flor cultivada, ele pediu que o mordomo fizesse chá de todas
as partes da flor e lhes servisse. Diante da reação de estranheza do mordomo, que
o conhecia de longa data, ele explicou que o curandeiro o advertiu que uma
xícara de chá das pétalas da flor correta teria o poder de cura, mas era
necessário ser cauteloso, pois o chá das partes erradas ou da flor cultivada geraria
uma amnésia temporária, porém bastante forte.
Então, Lamberto imaginou que
isso seria o suficiente para afastar os ladinos que sobraram do bando por, pelo
menos, uns dois anos, se bem que ele tinha esperança de que o esquecessem para
sempre.
Reescrita
baseada no livro Era duas vezes o
Barão Lamberto, de Giannni Rodari
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