BANDEIRA
BRANCA
Oswaldo
U. Lopes
Bandeira Branca amor
Não posso
mais
Pela
saudade que me invade
Eu peço
paz
Regina continuava a
guiar com os pensamentos a voar e, como sempre, voando longe. Divorciada há
tempo, não dependia de pensão ou de nenhum tipo de auxílio, ok nem todas tinham
essa condição, mas que raios dera na tal líder feminista para dizer que o homem
devia sempre ser o provedor.
A eterna mistura da biologia e da
diferença de gêneros. O bebê humano era de fato especial e tomava tempo para se
desenvolver e andar com as próprias pernas. Catorze anos é muita coisa , isso era biologia, a mãe precisa de
um companheiro para dar conta desse tempo. Isso era diferença de gênero. Mas,
dependência, não.
Que mulher precisava da força do homem
em pleno século XXI? Depois que a
produção de energia, relativamente barata e acessível, apareceu, quem precisa de força muscular para executar
as necessárias tarefas do dia a dia? Durante séculos a diferença de força e,
portanto da capacidade de fazer trabalho, fora um fator de desiquilíbrio entre
os gêneros. Agora a realidade era outra. Dois séculos é pouco na história da
humanidade? É, mas dai tudo mudara por completo.
Porque essa maldita música ficava
soando na sua cabeça? Pobre Dalva de Oliveira, o Maracanãzinho inteiro cantando
com ela e ela pensando no farabutto do Herivelto. O pior é que eu também não consigo parar de
cantar, será que quero paz, não aguento mais?
O que me faz falta? Não vai dizer que é
homem! Em pleno tempo da diversidade, em que são numerosas as possibilidades,
os agrupamentos possíveis, LGBTQIAP, tantos, quase quanto às letras do
alfabeto, quem precisa de homem? Eu.
Não no sentido sexual ou por ai, mas o
companheiro que está a seu lado e não deixa você se sentir solitária. É, isso
ela não tinha, já teve, mas não agora. Pobre Dalva cantando com a multidão,
procurando seu par. Bandeira Branca...Tinha lido, em algum lugar, que a música
estava concorrendo num festival e mesmo com o estádio inteiro cantando junto,
só tirara terceiro lugar. Quem, ainda hoje, sabe ou canta as chamadas
vencedoras.
Pelas sete espadas das dores de Maria,
senhora da Piedade, pensou lembrando os tempos no colégio religioso. Cruzando
com os sete mil amores da Luiza do Tom Jobim. O profano e o santo misturados na
sua cabeça que seguia voando.
Será que é hora de pedir piedade? Sou
humana, o latim de Terencio veio junto com a religião. Com a Pietá de Michelangelo
ao fundo, pediu para a jovem mãe sofredora, um pouco da piedade que lhe escorre
pelos dedos. Quem trará piedade? Aquele que não é piedoso?
Com a cabeça a mil e entoando Bandeira
Branca, Regina seguiu dirigindo pensando que não ia chegar à parte alguma.
Precisava chegar, sem dúvida, mas aonde? Para quem? Isso era outra história
que, como nos contos infantis, que lia para os netos, ficava para outra vez.
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