Bodas
de Ouro muito bem comemoradas
Ledice
Pereira
Mara
aproveitou a sesta do marido para sair fotografando como gostava. A viagem, em comemoração
às bodas, desenrolava-se tranquilamente. Agora estavam em Austin, cidade dos
Estados Unidos que não conheciam. Nelson não tinha muita paciência para as
fotos da esposa. Achava-a muito meticulosa. Ela procurava sempre o melhor ângulo. Ajustava
todos as engrenagens da potente câmera que ganhara de presente. Demorava para
tirar uma simples foto.
A
tarde não estava tão fria e nem chovia. Colocou, sobre a camisa flanelada, a
jaqueta acolchoada sem mangas, que lhe protegeria o peito, e lá foi à procura dos
pássaros que costumavam fazer uma revoada naquele horário da tarde. Pensou ter
ouvido o barulho que faziam e desceu apressada. Queria fotografá-los. Sentiu
que chegara meio atrasada.
Assim
mesmo, preparou a câmera, deu um zoom e um cano de fuzil interpôs-se entre a
imagem das aves que buscava, não a impedindo de disparar instintivamente o
botão. Estaria vendo coisas? Tirou o olhar do foco, procurando o intruso.
Queria entender o que ocorria. Sim, parecia ser mesmo um fuzil. Ouviu o tiro
distante, enquanto imaginava estar ali um caçador de aves, aguardando a revoada.
Houve correria. Pôde avistar um corpo caído adiante.
Foi
o tempo de dar meia volta e entrar apressada e trêmula no hotel. Atravessou em
meio aos curiosos que, atraídos pelo ruído,
aglomeravam-se no saguão e em frente ao prédio, fazendo suposições, procurando
adivinhar o que havia acontecido.
Mara
dirigiu-se ao elevador que, felizmente, encontrava-se vazio. Estava apavorada. Os
oito andares custaram a ser vencidos, parecia uma eternidade. Bateu à porta e,
quando Nelson abriu, jogou-se nos braços dele em prantos. Ele, sem saber o que
estava acontecendo, procurou acalmá-la, pegou-lhe um copo de água e abraçou-a. Nunca
a vira tão descontrolada e tremendo tanto. Pensou até em chamar um médico,
pedindo ajuda à recepção.
Ela
o fez desligar o telefone. Tentou se controlar e contou o que vira. Tinha medo.
Julgava ter fotografado um criminoso. Conectou a câmera ao bluetooth
para verificar melhor no celular o que havia capturado. O rosto meio protegido
por um capuz mostrava uma silhueta que talvez pudesse ser detectada por um
banco de dados do FBI.
Ficou
dividida entre o dever de colaborar e o medo de ser perseguida pelo criminoso. À
noite, mais calma, durante o jantar no próprio hotel, decidiu com o apoio do
marido que cumpriria com o seu dever.
Nelson
tinha um grande amigo, respeitado advogado,
que residia há anos em Nova York e para quem resolveu ligar, contar o
fato e pedir uma opinião. O amigo ofereceu-se para acompanhá-los ao FBI. Teria mesmo
que viajar a trabalho para Austin dali a dois dias.
Aguardaram
ansiosos a chegada de Walter. Ele os tranquilizou. Ninguém saberia que ela
conseguira fotografá-lo daquela distância. Quem imaginaria que um potente zoom
colaboraria para possível identificação.
Walter
tinha livre acesso aos escritórios do FBI. Ligou para lá, marcando um horário
para um encontro com o chefe do departamento de investigação.
De
posse da foto apresentada por Mara, o departamento partiu para investigar a
nova pista.
Mara
e Nelson já tinham passagem reservada para Las Vegas no dia seguinte. Receberam
os agradecimentos do FBI, sendo informados de que teriam ciência do desenrolar
das investigações.
Pela
TV, dias depois, tiveram notícia da prisão do criminoso. O rapaz, pertencente a
perigosa gangue era, há muito tempo, procurado
por ser um foragido da prisão, onde pagava pena por outro crime cometido.
Como
agradecimento, o casal foi agraciado com toda a despesa do hotel em Las Vegas, além
de um jantar reservado em hotel de luxo, com os cumprimentos do Chefe de
investigação, pelas bodas de ouro que comemoravam.
Naquela
noite, vestidos com suas melhores roupas, compareceram ao hotel indicado. Mara
fotografou a linda mesa e solicitou ao gentil garçom que registrasse aquele
momento para que ficasse eternizado. Os filhos, certamente, ficariam ao mesmo
tempo orgulhosos e surpresos quando eles contassem sobre a incrível aventura vivida.
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