NADA
Sérgio
Dalla Vecchia
Como é
relaxante não fazer nada!
Era o
que sentia estressado executivo, num final de semana pescando em um sítio.
Seu
cérebro dividido em pequenos compartimentos estanques, ordenava as tarefas uma
a uma, abrindo um compartimento para cada uma delas. Assim funcionava
perfeitamente a rotina do eficiente executivo na sua jornada.
Atividades
objetivas e precisas, executadas pelo corpo obedecendo fielmente ao comando do
cérebro.
Para
aquele momento de lazer, o cérebro liberou um compartimento especial para a
importante atividade, denominava-se nada!
Nada a
pensar,
Nada a
planejar,
Nada a
temer e
Nada a
fazer!
Assim
era o estado de espírito do executivo à beira da lagoa.
Absorto
com o molinete em mãos, olhos fixos nas plácidas águas, ouvia pássaros e sentia
a brisa, tudo na cadência da respiração letárgica.
De
repente, surgiu a esposa com seus compartimentos cerebrais interligados,
ordenando simultaneamente múltiplas atividades, que ansiosa logo perguntou:
—
Marido, em que você está pensando aí parado, com esse sorrisinho nos lábios?
Ainda
em transe, ele virou-se calmamente e respondeu:
—
Nada, querida.
Ela
enciumada aproximou-se, deu-lhe um beijo na testa e retrucou:
—Olhe
lá, Hein! Em quem você está pensando!
Infelizmente
os cérebros das mulheres não foram agraciados com o prazeroso compartimento do
nada. O azar é só delas!
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