Um corpo
na Sacristia
Antonia Marchesin Gonçalves
Em Cafelândia, pequena cidade do interior paulista, há duas igrejas que merecem destaque, uma na parte alta mais elegante, e a outra na parte baixa, região mais pobre com movimentação comercial, mais modesta.
Existia um padre que cuidava das duas Igrejas, mas como ele esteve doente a Cúria mandou um outro mais novo, aí começaram os problemas. O mais velho não aceitava o jovem, por ser mais ativo, inovador e com isso movimentava toda comunidade, a disputa foi envolvendo toda a cidade, alguns só assistiam às missas na Igreja de cima e outros na de baixo, isso era motivo para as fofocas das carolas locais, pois pouca coisa acontecia por lá.
Certo dia tudo isso mudou.
Na Catedral, na primeira missa do dia o tumulto se iniciou. O coroinha na hora de arrumar o altar foi na sacristia pegar os paramentos e levou o maior susto quando tropeçou em algo era um corpo de mulher coberto com um véu negro. Ao tocá-la viu que gelada, estava morta. Chamou o padre que imediatamente ligou para a polícia, e junto com ela foi convocado o detetive Francisco da cidade vizinha de Lins, mais conhecido como Faro Fino pela sua capacidade de farejar assassinos. Francisco já havia sido convocado para um caso parecido (o do véu negro) na cidade de Pirajuí. O seu primeiro comentário foi “o mesmo safado de sempre”, ele está me testando não sabe com quem está se metendo.
Tendo todas as anotações na caderneta, o investigador começou de imediato a investigação. Não, não havia queixa nas delegacias das redondezas de nenhum desaparecimento de mulher. Francisco pediu que as impressões digitais fossem enviadas para São Paulo.
Talvez possamos ter um nome e mais alguns indícios sobre o caso.
O detetive começou a se munir de uma lousa, giz e se instalou numa sala reservada na delegacia (era como ele trabalhava) Ali ele detalhou na lousa os dois casos em que as mulheres foram igualmente mortas a facadas e cobertas por véu negro. Anotou no quadro negro (perto ou dentro das Igrejas, véu negro, desconhecidas, alguém querendo incriminar os padres ou a própria Cúria Católica). Sendo que havia descontentamentos por parte de alguns padres da região.
Saindo da delegacia o detetive Faro Fino foi conhecer a cidade, as imediações da Catedral, e viu ser um lugar calmo, uma praça arborizada bem cuidada, casas grandes com muros altos e pouco movimento. Sempre que encontrava alguém se apresentava e aproveitava para fazer algumas perguntas no intuito de saber se alguém havia visto algo que pudesse ajudá-lo na investigação. No seu passeio pelas redondezas chegou a conclusão de que ali no reduto da Catedral eram todos fiéis que aprovaram o padre. Seria então provavelmente uma armação para que o padre ficasse desacreditado ou perdesse a paróquia, resolveu também focar a investigação na
parte baixa da cidade. Ali havia maior resistência às suas perguntas Estariam se protegendo, ou protegendo alguém?
Faro Fino foi à missa das 18 e percebeu que o velho padre João tinha todo o apoio popular de baixo, mas que, de tão idoso, já tinha dificuldade para fazer a missa toda, precisando de ajuda. O padre que não quis responder as perguntas argumentando haver um compromisso e não podia se atrasar. O detetive voltou para a sua sala e revendo as anotações da lousa, nomes e as ligações com a morta, em seguida telefonou para São Paulo e soube que a vítima era Angela Maria Cardoso, solteira de 56 anos, devota das missas diárias e ajudava na casa do padre João . Curioso - pensou ele - o caso de Pirajuí também a mulher era solteira e de meia idade e frequentadora das missas diárias. Seria roubo de doações, imaginou que elas poderiam ter descoberto o ladrão ou ladra e foram mortas para não denunciarem. Ou será que elas, por não serem casadas, teriam deixado algum testamento para a Igreja? Mas por que o véu negro nas duas vítimas?
Desconfiado de uma hipótese diferente não quis escrever na lousa para não correr o risco de lerem. Munido de seu instinto começou a investigar a vida das duas mulheres. Ambas tinham relativos bens, não tinham filhos mas sim sobrinhos que seriam seus herdeiros. Ana a vítima de Pirajuí, não tinha um relacionamento bom com a família e fazia com que todos soubessem que ela deixara no testamento todos os seus bens para a Igreja, isso levou Faro Fino investigar a família de Ana. Convocou a todos, que não era grande, sobrinhos e uma irmã, para uma reunião assim ele poderia analisar as características de cada um. Na reunião fazendo ele as perguntas de praxe, sentiu no ambiente certo ressentimento de todos, mas uma pessoa em especial, a sobrinha que cuidou dela até morrer era a mais calada com o semblante dócil e educada respondeu com calma as perguntas sem se alterar não demonstrando nenhuma dor pela perda da tia. No dia seguinte resolveu chamar essa sobrinha para investigar mais sobre a vítima, queria saber como era a rotina delas, e a medida que ele a incentivava a moça a falar foi sentindo revolta e certa raiva contida em suas declarações, a ponto de dizer que sua tia era desumana, megera e egoísta e que mereceu a morte que teve.
A tia, disse ela, ia a missa logo na primeira hora da manhã, mas ela não a acompanhava, porque tinha que manter a casa em ordem e fazer o almoço, pois a vítima se prolongava após a missa na ajuda para o padre João, nos afazeres da Igreja e chegava sempre perto da hora do almoço.
Faro Fino resolveu ir à Igreja para falar o sacristão e descobriu que Dna. Ana quase todos os dias se trancar com o padre João nos cômodos dele. Ora, pensou Faro Fino, Ana era amante do padre.
Voltou para Cafelândia e na Catedral e resolveu falar também com o sacristão , que revelou que Angela após a missa se dirigia para a casa do padre João e só saiu de lá perto da hora do almoço e que ela morava sozinha, seus familiares
não moravam na cidade e sim na cidade de Bauru a uma hora longe de Cafelândia. Bingo disse Faro Fino.
Na sua sala pegou os dados do padre e mandou para S.P. para que levantassem a ficha dele e enviaram de volta com foto e tudo a bela surpresa, o padre João nunca tinha sido padre e sim um grande golpista procurado pela polícia nacional inclusive por assassinatos de mulheres de meia idade sozinhas, sempre de padre. De imediato
Faro Fino foi a casa do padre que tranquilo jantava com uma nova senhora da cidade, provavelmente uma nova vítima, e sem saber que tinha sido descoberto o convidou para que se sentasse à mesa, e lógico Fario Fino deu voz de prisão munido de sua arma e o algemou para o espanto da convidada, e do padre.
Levando o bandido para a delegacia perguntou o porque do véu negro nas vítimas e ele respondeu com muita frieza que era para dar mais suspense nos crimes e era isso que o diferenciava,
era a sua assinatura.
Mais um caso resolvido pelo Faro Fino “o investigador”.
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