Os Números não Mentem - José Vicente J. Camargo



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Os Números não Mentem
José Vicente J. Camargo
     
Relembrando os detalhes do jantar de ontem, me surpreende a incrível coincidência da numerologia nesta história, que já está se tornando a minha de “mil e uma noites”:
Recebi o convite do meu primeiro melhor amigo, o segundo mais rico da galera, para acompanhá-lo no “Terceiro Encontro da Associação Beneficente das Crianças Carentes”. Chegamos em cima da hora, faltando quatro minutos para o início do show que antecedeu aos “comes e bebes”. O garçom nos conduziu à nossa mesa, a de número cinco. Éramos seis pessoas confortavelmente acomodadas, sem necessidade de cotoveladas no manuseio dos talheres. O sétimo conviva chegou, e vejo que é justamente ele: A estrela da festa!
Presença anunciada em letras garrafais na divulgação da efeméride e no “diz que diz” da mulherada. Verdadeiro chamariz para a venda antecipada dos convites e das rifas. Beleza pura, sorriso estonteante, vontade de comê-lo vivo! Mas a alegria durou pouco. A vontade de agarrá-lo, virou gana de esgana-la, quando, completando a mesa de oito lugares, ela sentou ao seu lado, deslumbrante, com todo seu charme de diva, impossível de qualquer comparação! Segurou-lhe as mãos, deixando o raio fúlgido do brilhante solitário, humilhar os olhares femininos das demais convivas.
O cardápio, composto de nove pratos quentes e frios, incluindo entradas e sobremesas, estava à altura do badalado Master Chef, recém-chegado da culinária francesa. Os vinhos, do Champagne ao licoroso, dez ao todo, apresentados por enólogo famoso, deu o toque de glamour ao jantar, realmente de gala, porém a milhas de distância das crianças carentes...
No entanto, a degustação de tantas iguarias, ficou prejudicada pelos olhares insistentes dos casais da mesa, em direção ao par famoso. Os homens, mais discretos, procuravam os lânguidos olhos dela: cílios, sobrancelhas e maquiagem em perfeita harmonia com o rosto obra prima e as mulheres, menos formais, não escondiam a atração pelo verde das pupilas dele e do magnetismo do seu sorriso. O penteado, a Rodolfo Valentino, dava um toque de nostalgia “noir”, prolongando a intensidade dos suspiros.
Eis que chega o ápice da noite, com o esperado sorteio das rifas. Entre as inúmeras prendas a prêmio, a mais cobiçada era a valsa com ele, o galã da novela, recorde de audiência no país. Meu bilhete, terminado em 011, tremia entre meus dedos úmidos de suor. Pus em prática todos os exercícios de concentração aprendidos nas aulas de yoga. O rolar das bolinhas na caçapa parecia interminável. Em voz vibrante, o chefe de cerimônia solicitou ao astro galã que subisse ao palco para anunciar o nome da eleita. Em caso do número cair com um convidado masculino, a parceira da valsa seria a companheira de mesa do galã, também famosa atriz de novela. Neste momento, foi a vez do meu amigo acompanhante esfregar as mãos, num calafrio de êxtase...
Após uma pausa de suspense, o galã anuncia:
“1211”!
O pulo que dei, contrariando todas as regras da boa etiqueta, não deu para disfarçar o grito que fugiu da minha garganta.
E lá estava eu no meio do salão, tal qual Sisi em Viena, rodopiando sobre o brilho dos candelabros de cristal, tentando distinguir se a pressão que apertava minha cintura e minha mão, abraçada na dele, vinha da respiração ainda ofegante que sentia pela surpresa, ou do coração em arritmia, ou – difícil de acreditar – de seus dedos me apertando numa tentativa de cantada? Senti que seu sorriso escondia uma segunda intenção. Quem conhece tais situações, pega o gato no pulo…:
“Mas ele tem um harém a disposição!” pensei. Misturando-se nessa dúvida, me vinha à mente, as frases de auto ajuda das redes sociais: Porque não pode ser você?; Acredite em você!; Dê valor às suas atitudes!; A Felicidade está a onde você a põe!; Tenha fé, que vai dar certo...
Sim! “Hoje é hoje, amanhã é amanhã”. Hoje Strauss, amanhã: samba no pé?
E assim, correspondi a sua pressão com uma contrária, na mesma intensidade. Ele sorriu, abanou positivamente a cabeça, continuamos o gira-gira e, no término, ao agradecer-me, balbucia no meu ouvido: “Te ligo amanhã”!
Hoje, ao acordar, corri a xeretar no celular, se entrou alguma ligação nova.
Necas!
Mas, agora que descobri a participação da numerologia nessa história, tenho de dar sequência a ela e o próximo número é o treze.
Número de azar! Será que vai dar zebra? Novamente me vem à  cabeça as frases de autoajuda. Deixa pra lá, concluo. Certamente o telefonema dele virá as 13:00 horas: um convite para almoçar!
Ainda tenho tempo de tomar banho e de vestir aquele “look”, pois, no meu horóscopo de hoje está escrito:
“Os números não mentem…”

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