Onde estão os aprendizes de ofícios? - Ises A. Abrahamsohn



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Onde estão os aprendizes de ofícios?  
Ises A. Abrahamsohn

        De uns cinco anos para cá tenho observado um fenômeno que se agravará muito daqui pra frente. Já causa problemas, mas perturbará a tranquilidade doméstica de todos, ricos e pobres. Não, não se trata de aumento da criminalidade ou de nova estiagem nos reservatórios de água de São Paulo. O que está acontecendo é o progressivo e acelerado desaparecimento de pessoas capacitadas a fazer consertos e manutenção de equipamentos de uso comum doméstico.

        É cada vez mais difícil encontrar alguém para consertar ou verificar instalações diversas em nossas casas. São escassas as pessoas competentes. Talvez a economia do país se beneficie no futuro com isso. “Não conserte, substitua” creio que será o moto da economia em menos de dez anos. Agora já é aplicável aos pequenos eletrodomésticos. Todos já ouvimos a frase: Não compensa mais consertar; não há mais peças, o novo custa o preço do conserto.

        Já me resignei a ter de encostar o meu amado e eficiente aspirador de pó de vinte anos quando der o último suspiro.

O que me preocupa mais é que nenhum jovem aprendiz ou auxiliar acompanha os competentes e já idosos consertadores de geladeira, fogão, portão eletrônico, aquecedor a gás ou ar condicionado. Esses equipamentos pelo menos por enquanto são caros e não descartáveis. Talvez venham a ser no futuro quando não mais existirem pessoas que saibam como consertá-los.

Perguntei a alguns desses senhores por que não têm auxiliares ou aprendizes. A resposta foi que os jovens não querem ofícios ou serviços que “sujam” as mãos.
—Todos querem trabalhar em escritório, atrás de um computador, mesmo que ganhem salário mínimo, foi o comentário geral.

E é verdade. A grande maioria dos jovens desempregados ou subempregados concluintes de ensino médio, sem perspectiva de continuar os estudos, não se interessa em aprender algum ofício mais simples. Também não querem investir em um aprendizado prático, sem se dar conta que sempre estarão em subempregos, sem nenhuma capacitação a oferecer.

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