O Misterioso Segredo
Yara Mourão
Andar, andar, que a noite murmura mistérios por entre os prédios, pelas luzes fracas dos abajures nas janelas, no chão do abandono ao final das ruas.
Contemplo esse pergaminho de segredos.
Silenciosos, mas que gritam pelos ares murmúrios de dor, de amor, de incontáveis histórias.
No meio da noite morta, não necessito de sono. Ouço confissões. Dos amantes ainda despertos entre o sonho e o descontentamento.
Chego à porta de Claudio.
Ele dorme? Não dorme.
Ele sussurra palavras de amor.
É Clarice quem o escuta. Ela… Clarice… a que voltou de um lugar distante para reencontrar quem já não a sabia mais.
Quisera ouvir o que dizem.
É tudo uma névoa escura, um murmúrio de mar, um ruído de asfalto. Mas há sinais. Luz na janela da cozinha. Ah! Acordaram e vão beber algo. Mas não! Logo a luz se apaga. A janela se abre e o gato salta para o jardim. O vulto de Clarice passa na penumbra, os longos cabelos soltos, um leque nas mãos.
A casa se ilumina de novo; é uma estrela piscando no meio da noite para orientar os passantes solitários.
Esse passante sou eu. Um poeta. Que volta a andar, andar. Sem descobrir o segredo dos corações apaixonados.
E volto a andar até o final da noite, desacordada, porque sou um poeta e um poeta não necessita de nada.
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