Parodiando
notícia americana
Yara
Mourão
Ser
um jornalista importante era o sonho de todos os alunos do curso de
Comunicações da faculdade. Buscavam motivos, procuravam problemas para fazerem
uma reportagem, para darem uma notícia.
Um
dia o professor chegou com um anúncio incrível: queriam que se designasse o
melhor dos alunos, ou já um profissional, para participar de uma importante
reunião na Secretaria de Segurança.
Indicaram
Pedro Duarte, o mais preparado de todos.
Sem
muita demora, no dia determinado, nas proximidades da faculdade, a Polícia
Federal já cercava o prédio da Secretaria de Segurança Pública.
Pedro
chegou cedo para se certificar das providências. Logo foi conduzido ao salão
das reuniões, onde um grupo de altas autoridades já se encontrava. Estranhou a
movimentação, mas seu crachá estava pronto e ele não tinha com o que se
preocupar.
Não,
até o início da reunião secreta.
Ali,
num recinto sufocante, Pedro foi se confrontando com as discussões, com as
proposições colocadas. Achou tudo muito estranho. Duvidou da indicação de sua
presença, se seria mesmo necessária.
O
que se debatia eram estratégias de busca e apreensão, de aprisionamento e de
possíveis torturas de pessoas sob suspeita de conspirar contra o Estado.
O
que Pedro poderia dizer? Era somente um aluno, não um jornalista tarimbado e da
estrita confiança dos órgãos de segurança nacional.
Mas
a busca por um furo jornalístico falou mais alto e Pedro quedou-se, abismado,
entre segredos, verdades e suposições de cunho altamente secreto do País.
Assim,
ficou sabendo de coisas que nunca imaginara saber! O que fazer com essas
informações? Guardar para si não fazia sentido. Publicar? Mas eram questões de
segurança nacional, altamente secretas.
Pedro
se recolheu em um profundo mal-estar.
Certamente fora um engano ele estar ali. Pensou em se desmascarar, mas
temeu represálias. Agora tinha provas concretas do envolvimento arbitrário e
violento dos órgãos da Defensoria Pública.
Ao
primeiro sinal de intervalo, Pedro se retirou do salão. Saiu rápido, quase
fugindo. As notícias de acontecimentos reais passavam pela sua memória. Não!
Não poderia guardar para si o testemunho da violência oficial.
Ainda
era dia quando Pedro enviou mensagens à Faculdade de Comunicação, ao professor
e aos caros colegas: “Pessoal, há mais coisas entre o céu e a terra como dizia
Shakespeare. Temo pelo que virá. Abro mão de minhas anotações para que o
público se dê conta de fatos dos quais nem suspeitavam!”
E
agora Pedro era quase um desertor, um vencedor ou um vencido, não sabia.
Aguardava as consequências.
Fora
tudo muito inusitado; parecia um imenso qui pro quo, uma história de
filme policial americano.
Alunos
e professores debateram por dias se a prevalência das notícias sobre a
sociedade desinformada não é uma faca de dois gumes.
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