JULINHA VAI ÀS COMPRAS
Suzana da Cunha Lima
Julinha vai às compras.
Isso significava vestir um pobre/chique. Vestidinho fora de moda,
peruca sem graça e outros artifícios para parecer pobre, mas não tanto, ou
seja, pobre para o ladrão desistir de assaltar e o meio chique era para poder
entrar em certos estabelecimentos, até mesmo escritórios, para vender suas
rabanadas, sem parecer moradora de rua.
Claro que não precisava do dinheiro da venda das rabanadas para
nada. Porém, foi o modo que arrumou para poder entrar na loja do marido e
dar uma incerta.
E de quebra, livrou-se de muitos assaltantes que nem sonhariam que,
debaixo daquela breguice, estava uma empresária bem-sucedida, de carro zero na
garagem.
Porém, naquela segunda-feira, o que ela ia mesmo fazer era dar um
“perdido” no marido, ali, na loja dele, no trabalho dele.
Desconfiava da moça que circulava nos vestiários mais do que a bonitinha
da caixa. Essa era uma prisioneira daquele guichê, com poucos momentos de
folga, porque NÃO tinha substituta designada.
Ah, mas a outra, ah, a outra! Quase sufocando num vestido justo, que
favorecia seus seios generosos e com aquelas pernas bronzeadas equilibradas num
sapato bico fino altíssimo, andando pra lá e pra cá, num rebolado indecente,
era o desfrute de quem estava lá.
Só podia ser ela mesmo a razão dos suspiros e olhares lânguidos dele,
até mesmo quando estavam na cama. Não haveria de ser por mim, uma pobre
marquesa, pensava ela, olhando os seios caidinhos e uma barriga flácida
remanescente de um regime feroz.
Então, meu caro, não é a outra, sou eu mesma, a mãe de seus filhos e é o
que temos para hoje, goste ou não. E assim ia levando sua vida sexual com o
marido, porque ela sabia muito bem como compensar suas frustrações. Ou
seja, ela também suspirava pelo entregador de pizza, do qual o maridão não
tinha o menor conhecimento! HaHaHa
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