A Missão dos Gêmeos - Silvia Maria Villac

 




A Missão dos Gêmeos

Silvia Maria Villac

 

 

Quando o pai lhes deu a notícia sobre o que deveriam fazer para receber a herança, em um primeiro momento, Gil, passou a mão pelos cabelos repetidas vezes e franziu o cenho, enquanto Vicente se levantou e começou a estalar os dedos das mãos, andando de um lado para o outro do recinto.

Em um segundo momento, Vicente voltou a se sentar e ambos mantinham a mão sobre o queixo, com o cotovelo apoiado sobre a perna cruzada, como que se questionando o porquê dessa aventura.

Acostumados com a metrópole, teriam agora que ir para um minúsculo vilarejo, desenvolver um projeto em sua respectiva área de expertise e, o mais desafiador, conviver e conquistar os habitantes do micro lugar escolhido a dedo pelo pai!

Gil, o engenheiro, foi sorteado para ir para a Holanda, país onde turistas não são bem-vindos nem mesmo na capital!

Já o destino de Vicente, o médico, era a Dinamarca, onde o ranking de visitação já é bem menor.

Os irmãos, sempre muito unidos, combinaram de se falar diariamente, porém não se surpreenderam quando descobriram que não havia sinal de celular no povoado de Gil, que teria que percorrer uma meia hora de estrada para chegar em um vilarejo próximo, visto como um local mais adiantado, enquanto Vicente poderia utilizar a senha do wi-fi do correio.

Sendo engenheiro, ele imediatamente descobriu o projeto que iria desenvolver. Sorriu para si quando a ideia lhe veio à mente e relaxou os ombros, balançando a cabeça afirmativamente, decidindo que levaria a internet com fibra ótica para toda a região.

Enquanto isso, na Dinamarca, Dr. Vicente havia sido recebido com total frieza pela comunidade.  Com a sobrancelha esquerda levantada e os lábios fechados, ele foi se apresentando aos locais, tentando, em vão, esboçar um sorriso para disfarçar sua timidez perante aquela recepção gélida.

No meio dessas pessoas, avistou uma moça alta que, no fim das apresentações, veio ao seu encontro e lhe disse que o levaria onde seria sua casa. Era o 1º semblante amigável que via e isso fez suas feições relaxarem e conseguiu sorrir, deixando à mostra aqueles dentes todos alinhados.

A casinha era logo virando a esquina e, mais uma vez, seu semblante se descontraiu quando avistou a varanda florida, como que lhe dando as   boas-vindas. Respirou fundo, tornou a mostrar seu belo sorriso e, ao receber as chaves, abriu a porta e, com passos firmes e decididos, adentrou o recinto, sabendo que seu projeto seria abrir um ambulatório com consultas online para todo o povoado daquela região. E, franzindo o cenho, mas sem deixar de sorrir, se prometeu não mais chamar aquele local de Cafundó do Judas.

 

 

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