DICAS DIVERSAS - SITES QUE PODEM SER ÚTEIS - LEITURA NÃO OBRIGATÓRIA

 

1 - GOOGLE ART:

Um canal de viagem pelas mais diversas fontes de artes do mundo. 

https://artsandculture.google.com/



2 - GOOGLE EARTH:

Veja os países, cidades, bairros, em todos s seus pontos. Aumente ou diminua a tela. Faça pesquisas. Navegue sem fronteiras.

https://earth.google.com/web/@38.945232,11.70781482,-914.99603897a,2755522.04445273d,35y,0h,0t,0r/data=OgMKATA



3 - RIMAS:

Sabe aquele momento que faltam palavras? Para os poetas, indico para quem busca uma rima para a poesia que está nascendo: 

Site de rimas 








4 - CONVERSÃO DE ARQUIVOS: 

Você recebeu um arquivo no PDF, mas precisa fazer alteração e transformar em Word? Este site é gratuito.
Para converter um arquivo PDF em WORD:
Neste site você também faz conversão de DOC (Word) para PDF. 
De PDF para JPG (imagem), e vice-versa.
Explore!

https://pdf2doc.com/pt/



5 - QR CODE FÁCIL E GRÁTIS:

Para criar um QR CODE de um endereço, de um cardápio, de um lugar, site, ou seja, lá o que for, é muito fácil neste site.

https://qrcodefacil.com/


6 - CORRETOR DE TEXTO GRÁTIS:

Este site ajuda a enxergar algumas falhas do texto. Não é perfeito, mas ajuda.

Ele tem a versão gratuita, embora a versão paga, como em todos os casos, seja mais completa:

https://languagetool.org/editor/new



7 - CALCULE SEM PROBLEMAS:

O site CÁLCULO EXATO ajuda a fazer conversão de medidas de velocidade, de área (superfície), de volume, fuso horário  e tantas outras possíveis utilidades:  

https://calculoexato.com.br/parprima.aspx?codMenu=ConvMassa


8 - CÁLCULO PARA PAGAMENTO ÀS DOMÉSTICAS:

Precisa de uma ajudinha com os cálculos:

https://www.conexaodomestica.com.br/calculadora-de-salario.html



O Caminho e o Caminhar - Yara Mourão

 




O Caminho e o Caminhar

Yara Mourão

 

Naquele dia, quando amanheceu um sol quente e impiedoso, Girassol teve uma inspiração muito profunda: ergueu sua auréola dourada e constatou que sim, ele era muito bonito!

Essa percepção trouxe uma certeza: a de que coisas bonitas enfeitam o mundo, espalham alegria e espelham divindades.

Portanto, a existência devia ser uma urgência que demandava esforço.

Era isso que ele tinha em sua mente vegetal. Com o que ainda tinha de energia Girassol traçou sua caminhada.

Flores nascem entre flores. Girassol viu seus companheiros sofrerem e desistirem de seu ideal libertador, que era sobreviver a qualquer custo. Ele olhava ao redor e tentava mostrar a todos que o caminho era chegar ao frescor do jardim, apenas ao lado. Era perto. Era possível. Só tinham que persistir, que acreditar.

O sol era forte, o piso em fogo, queimando o caule delicado. Então Girassol olhou à volta e se viu sozinho para fazer a caminhada.

Por que eles desistiram? Será que não se acham bonitos? Será que não querem perpetuar o dourado entre o verde da paisagem? Como podem suportar o fim de nossa graça, nossa missão aqui neste mundo?

Girassol se sentiu triste e cansado. Mas não desistiu nem por um momento. Ergueu-se. Com grande esforço se libertou das raízes que o prendiam ao solo estéril, ressecado.

Arriscou-se no calor extremo, seus membros delicados se exaurindo a cada passo. O caminho era chegar no jardim verde, úmido, fresquinho, bem ali ao lado.

Girassol correu; depois, lentamente, se esgueirou pelo solo ardente. Estava quase chegando. A visão da salvação o cegava. Quase...mas sucumbiu à margem de alcançar seu ideal.

Não foi em vão. Não morreu incólume. Multiplicou sua existência em sementes promissoras e abençoadas.

Girassol é uma flor muito bonita que brota entre os verdes dos campos, trazendo nas suas folhas, nas suas pétalas, mensagens de amor.

E, assim, ele encerrou sua caminhada, tombando lentamente, mas deixando no ar e na terra sementes de beleza por todo o caminho por onde passou!

 

A arriscada vida de um girassol - Maria Verônica

 





A arriscada vida de um girassol

Maria Verônica

 

O girassol é uma flor que se relaciona com o Sol de um modo especial, diferente das outras plantas.

É o que acontece com o Solício um girassol que está brotando no jardim de Antonieta. É uma surpresa para ela e para o neto, Tadeu. 

Tadeu costuma brincar no quintal onde há muitas plantas bem cuidadas. Nota-se o carinho com que são cultivadas e podadas, oferecendo à casa um visual paisagístico encantador.

Tadeu é tido como um menino peralta, talvez por ser muito ativo, ousado em suas façanhas. Coisa de menino. Ele se interessa em brincadeiras que desafiam sua capacidade de vencer. Gosta de empinar pipas e disputar com outros meninos a façanha de “derrubar” a pipa do amigo. Tadeu já tinha compreendido a ação do vento para içar a pipa para muito alto, girar ou retroceder. Trocava muitas conversas com o avô sobre física e ação do vento. Lógico que era tudo brincadeira, mas havia muito aprendizado que Tadeu ainda não levava em conta.   

E foi numa tarde de especial ventania, quando, no quintal da vovó Antonieta, ele fazia a pipa subir, produzindo inúmeras acrobacias no ar, até que o sol faiscou sua vista, e ele invadiu o canteiro sem perceber. Tinha o olhar fixo na pipa que estava bem alta, e vez ou outra desviava os olhos do sol. O brinquedo titubeava no céu e era astuciosamente, levado daqui para lá e de lá para cá.

Conforme se movimentava com atenção no voo da pipa, ele não percebia onde pisava:

— Cuidado onde pisa! Você está me machucando.

Era um pungente grito de protesto que não poderia ser ignorado. O menino olhou para baixo e procurou, até que descobriu o girassol. Era ainda minúsculo, as folhas tenras não pareciam firmes, as pétalas surgindo devagar. Tadeu estava desconfiado “será mesmo que foi esta plantinha que falou comigo? ”, afinal, jamais tivera conversa com plantas:

— Quem está aí?

Então, ele ouviu novamente o protesto do girassol:

— Estou aqui, quase embaixo do seu pé, menino! Você vai me esmagar se pisar em mim. Cuidado, não se mova!

O garoto confirmou que a voz era da plantinha que vicejava ainda frágil se esticando para buscar a luz quente do sol. Abaixou para vê-la melhor, era um gracioso girassol, mas ainda tão pequeno que mal se enxergava.

Não, Tadeu não queria pisar as flores, ele tinha ajudado a cultivá-las, tinha até ferramentas com seu nome. Pensando em quão arriscado é ser uma plantinha, ele foi aos poucos, bem devagar, recuando, recuando. Quando se viu fora do canteiro, suspirou. É claro que sua avó não gostaria de ver o jardim pisado daquela maneira. Sentiu-se até envergonhado por dar mais atenção à pipa, do que ao jardim.

Foi quando notou os olhos firmes da avó apreciando sua decisão de recuar em segurança do girassol. Ela estendeu os braços, e Tadeu correu para aproveitar aquele abraço carinhoso.


O Girassol - Silvia Maria Villac Vicente de Carvalho

 


O Girassol

Silvia Maria Villac Vicente de Carvalho

 

 

Lá de longe já se avista o girassol

Todo imponente próximo ao farol

Gira, gira girassol

Gira em torno do Rei Sol.

 

Flor da alegria e da energia,

Quando juntas em harmonia.

Parecem entoar uma melodia

Para nos encantar com sua companhia.

 

Essa flor tão colorida,

Sempre presente e nunca esquecida,

Mesmo quando não há mais vida,

Se faz agradecida em sua partida.

 

O MAU GÊNIO! - Ledice Pereira

 



O MAU GÊNIO!

Ledice Pereira

 

O fato de ficar todo contorcido dentro daquela lâmpada não era o pior para Crushy, afinal ele era contorcionista.

Fora castigado por ser antipático e rabugento, com zero paciência para com as crianças que vinham vê-lo no circo.

Para ele, elas faziam muitas perguntas, o que o irritava tremendamente:

– Por que você consegue colocar a cabeça entre as pernas?

– Como você consegue se contorcer assim?

– Você não fica com o corpo todo dolorido?

Essas e mais uma porção de perguntas, tinha que responder após cada espetáculo. E fazia isso com muito mau-humor.

O dono do circo só não o mandava embora porque ele atraia o público.

Crushy não era de família circense. Apenas havia nascido com o corpo flexível, que parecia de borracha e virava pra todos os lados.

Sem estudo, o emprego no Circo foi o único que ele conseguira.

Certo dia, estava ele lá, com sua cara de poucos amigos, maltratando a criançada, quando uma estranha mulher ficou observando seu comportamento.

O jeito como ele a encarou foi o suficiente para que ela, na verdade, uma fada disfarçada, o transformasse num pobre gênio de uma lâmpada esquecida num canto do circo.

Crushy esperneou, gritou, pediu socorro, mas a tal mulher, não se comoveu nem um pouco.

– Você vai passar seus dias aí dentro até aprender a ser um homem com H maiúsculo. Um homem que saiba como tratar uma mulher como eu e todas as crianças, sem exceção. Com alegria, respeito, paciência, sem essa sua má vontade. Lembre-se de que é a plateia que paga o seu salário.

O homem ficou ali por muito tempo. Naquela posição incômoda dentro de uma lâmpada estreita, fria, sem graça.

Se, ao menos, tivesse a fama, a importância e o dom de um Aladim...

O tempo passou, Crushy ficou mais velho, sentia falta de gente para conversar. Tinha até saudade da algazarra das crianças. A idade o havia transformado. Ele mesmo surpreendia-se. Procurou convencer a fada de que tinha se tornado um ser melhor.

A fada ficou com pena e resolveu dar uma nova oportunidade ao infeliz. Não sem antes o prevenir de que estaria atenta. Qualquer deslize e Pluft, num rápido passe de mágica, ela o castigaria.  

Livre, ele voltou a fazer contorcionismo. O tempo não havia tirado sua elasticidade. Logo passou a ser a atração principal do Circo. Vivia rodeado de crianças que queriam que ele contasse como fazia aquilo.

E pasmem, ele, agora, tornara-se o mais paciente dos homens. Até se arriscava a ensinar alguns segredos da profissão.

A fada o observava de longe.

O castigo havia surtido efeito mesmo!

Ele a procurava com os olhos, para ver se ela estava acompanhando sua transformação. Morria de medo de voltar a viver dentro daquela lampadazinha estreita, incômoda e solitária.

 

O GÊNIO DA LÂMPADA - parte 1 - Ises de Almeida Abrahamsohn

 



O gênio da lâmpada

Ises de Almeida Abrahamsohn

 

Parte 1

Francisco e Maria tinham planejado a expedição para aquele sábado. Na pequena cidade de Minas onde moravam, corriam muitas lendas sobre a existência de um tesouro escondido no fundo, de uma caverna na época da mineração do século dezoito. Era uma região com muitas cavernas, das quais apenas duas não tinham sido completamente exploradas pelo povo atrás do tal tesouro. Os dois irmãos decidiram investigar a caverna do riacho Fundo.
Iam na direção do riacho Fundo munidos de mochila, água, pá de jardim e de uma corda de pular, grossa de sisal de uns 5 metros e dos faroletes de emergência retirados da gaveta da cozinha,

A entrada da caverna na época das chuvas, com o rio cheio, ficava atrás de uma queda d’água de uns 3 metros de altura. Com cuidado para não escorregar nas pedras lisas, os dois conseguiram passar por trás da cachoeirinha e entraram na caverna. O chão estava firme, mas após os primeiros metros a escuridão era total. Os fachos estreitos dos faroletes iluminavam o caminho à frente, mas não era possível clarear o teto e as laterais. Alguns morcegos, acordados pela luz e pelo barulho, voavam entre as paredes. Mas não assustaram os dois exploradores que sabiam que os radares dos morcegos evitavam os obstáculos.
Súbito, após avançarem uma centena de metros a caverna parecia terminar em um paredão de pedra. Examinando com a lanterna viram uma abertura no nível do chão de uns 30 centímetros de altura e uns 50 cm de largura. Não daria para eles passarem.

Podemos tentar cavar para aumentar o buraco, disse Maria. Ou a gente volta daqui.
Francisco topou a tentativa de alargar a passagem. Se revezaram, um raspando o chão arenoso com a pá, enquanto outro segurava a lanterna. Afinal, após quase uma hora de esforço, conseguiram alargar a passagem para poderem se esgueirar deitados para além do paredão. Puxaram as mochilas com os pés e deixaram a corda marcando a passagem.
Iluminaram o entorno. Era um espaço alto, seco, o teto de rocha lisa e nas laterais alguns recessos entre pedras lisas. Não havia morcegos ali.

Maria falou:

Acho que antigamente o rio chegava até aqui, essas pedras são lisas e no chão às vezes tem umas pedrinhas iguais às de fundo rio. Se alguém fosse esconder um tesouro, seria entre essas pedras nos lados.

Francisco examinava as laterais.

Olha só, Maria, uma aranha totalmente transparente. Deve ser cega também vivendo aqui. Fugiu entre aquelas pedras. Vamos começar por ali mesmo.
̶  Detesto aranhas de qualquer cor, retrucou Maria, mas vamos começar.

Não vejo nada, só pedra.

Mas ao iluminarem o fundo da fenda entre as pedras viram algo que refletiu a luz.

Lá tem alguma coisa, exclamou Francisco com o coração acelerado. Vou pegar.
Não é nada de valor, Maria. É um vidro grosso com uma base de metal. Parece ser uma lâmpada muito antiga. Vai ver que é uma lâmpada mágica, igual àquela da lâmpada de Aladim.

Ha, Ha, Ha fez Maria. Então vamos esfregar para ver e o gênio aparece. Está vendo? Nada acontece. Não é mágica.

Nesse momento a luz do seu farolete se apagou e Maria deixou cair a lâmpada de vidro que quebrou ao bater na pedra.

Um vapor azulado subiu do chão. No meio da nuvem azul, os dois viram um rosto magro de barba comprida com argolas nas orelhas.

Meninos, que bom que me livraram desta prisão onde estou há milênios. Sou da Caldéia, da cidade de Ur, na margem do rio Eufrates. Vocês conhecem?

Bem, gaguejou Francisco assustado a gente ouviu falar na aula de história. Mas existiu há três mil anos.

Pois é, eu era um gênio bem respeitado na época, mas um feiticeiro achou que eu não obedecia e me trancou nessa lâmpada de vidro. Como vim parar aqui não sei.

Maria, que era muito prática, indagou.

  Tá bem, seu gênio. Mas nós precisamos sair daqui e vou perguntar já se tem algum tesouro escondido nesta caverna.

Não Maria, não há tesouro aqui, mas eu posso fazer alguns truques muito úteis se me tirarem daqui e me arranjarem uma nova casa. Esta é muito apertada e estreita. Não conseguia esticar as pernas e ficava todo torto.

Francisco não queria levar o gênio, mas Maria argumentou que ele poderia afinal fazer algo de útil para eles e parecia um bom sujeito. Poderia até ajudar nas tarefas de história antiga.

Nós podemos levar você, mas tem que entrar numa garrafa. Não pode ficar aparecendo como fumaça azul atrás da gente.  Depois a gente em casa arruma uma lâmpada legal para ser sua casa.   Nós temos uma garrafa de água para carregar você. A gente esvazia e você entra e pronto.

O gênio não tinha outro remédio senão concordar. Quando viu a garrafa ficou entusiasmado.

É bem mais larga do que a minha antiga casa. E que material bom, é bem mais transparente que o meu vidro e é macio. Mas o problema vai ser o buraco. É muito estreito para eu entrar.

Chama-se plástico, não tinha na sua época. A gente vai cortar o gargalo para você entrar mais fácil. Meu irmão tem um canivete suíço para essas coisas.
Francisco interveio:

Tá bom. Posso cortar e alargar a boca para ele entrar, mas como vamos tampar?

Você ainda tem aquele pacote de chiclete? A gente mastiga um pouco e juntando uns três dá para abrir e esticar, fechando o buraco da garrafa.

E assim fizeram. O gênio se acomodou na garrafa de água tampada com o chiclete e colocada na mochila.

Fizeram o caminho de volta passando na abertura estreita e puxando depois a corda com as mochilas amarradas.

Foram andando bem depressa, quase no escuro, com a luz dos faroletes ficando cada vez mais fraca.

Por fim, alcançaram a entrada da caverna e a claridade. Já era próximo ao meio-dia, estavam com fome e chegariam para o almoço.

 

 

NOVAS IDEIAS, VELHOS PECADOS - Suzana da Cunha Lima

 



NOVAS IDEIAS, VELHOS PECADOS

Suzana da Cunha Lima

 

O Colégio NOVAS IDEIAS estava situado numa construção antiga, muito bem preservada e graças a uma estação de metrô ali perto, tinha se valorizado muito. Mas era considerado meio antiquado e muito rigoroso.

Porém, a onda da modernidade, surfando na era digital, e a competição acirrada entre os colégios que preparavam os jovens para o vestibular, acordaram sua diretoria para os novos tempos.  Primeiro transformaram um colégio estritamente masculino em colégio misto e, a novidade maior, introduziram o Ensino Médio, com foco na Faculdade.

Não economizaram na construção de laboratórios moderníssimos, ampliaram a área esportiva e contrataram os mais conceituados professores, mais habituados a esta faixa etária e ao preparo para o vestibular.

Foi uma experiência inédita para os professores do Ensino Fundamental. Na verdade, tiveram que se habituar àquelas mocinhas em suas minissaias ou shortinhos, os longos cabelos continuamente balançados, sempre rindo ou cochichando, correndo pelas escadas, falando alto e inventando novos jogos de sedução para os mestres mais velhos.

 E os rapazes, ainda tímidos diante de tanta fartura, só se realizavam mesmo nas áreas esportivas, campeonatos e disputas internas. O Colégio adquiriu uma nova vida com esta turma de adolescentes que estava chegando.

E para comemorar tantas mudanças e modernismos, foi pensada uma nova revista, para ser criada e conduzida pelos jovens que se interessassem, sob a supervisão de um professor expert em comunicação.

Era mensal e foi um sucesso desde o início, por conta de uma nova seção da qual não se sabia a redatora. Era um segredo guardado a Sete Chaves.

- Já chegou a revista nova? Perguntou Regina à sua colega de classe que acabava de chegar.

- Aqui na mão. – Carolina balançou a revista bem na frente dela e houve até um simulacro de luta entre as duas. Riram muito e Carolina propôs.

— Vamos ler juntas, então. – Sentou-se perto da amiga e folhearam as páginas até à secção de FATOS E BOATOS, assinada por Poliana, que ninguém sabia quem era.

— Nossa, olha essa, Regina, quem diria, hein?  Olha quem está de olho no Prof. Bento. A Juliana, aquela ameba, completamente sem graça. A Poliana agora errou feio a mão.

Carolina olhou para Regina, meio divertida. - Todo mundo sabe que ele tem uma quedinha por você.

Regina fingiu surpresa, meio displicente e esticou o olhar para o texto que a colega mostrava.

— Meu admirador? Eu só disse que achava ele bem bonitão, já grisalhando e que era muito atencioso, um sorriso lindo... Não está vendo que é pura fofoca? Mas, como é que essa tal Poliana sabe destas coisas?  Alguém anda soprando besteiras nos ouvidos dela, isso sim.

— Como fazer, Regina? Ninguém nem sabe quem ela é. Você quem podia saber, é quem vive enfiada na biblioteca, na sala de professores, nos campeonatos, nos laboratórios... em todo lugar onde o prof. Bento pode aparecer.

— Ele faz revisão nos meus textos, só isso. E faz de quem pedir, não é privilégio meu.

— Bom, já você vai ser chamada para a sala de professores. Ele já passou por aqui duas vezes, de olho comprido para você - alertou Carolina à amiga.

— É que dei um texto novo para ele corrigir e pedi pressa.

 Regina se levantou logo, deu um adeusinho rápido à amiga e correu para a sala dos professores. Viu a moça do café passar para a copa, enquanto o professor saboreava seu café como se não tivesse nada para fazer, esperando a moça ir embora com sua bandeja. Mal ela saiu, ele fechou a porta e cochichou para Regina, fazendo- a se sentar na cadeira.

— Acho que isso não vai dar certo não, Regina.  Essa sua invenção da Juliana comigo caiu mal. Uma aluna paquerando professor... E meu nome rolando nas entrelinhas... Todo mundo vai pensar que dei bandeira, e eu nem vejo muito a Juliana...

— Não precisam acreditar em nada, é só para levantar suspeitas, o começo de uma boa fofoca. - Está com medo de quê?

— Minha reputação, ora. O que mais? Estou lecionando aqui porque fiz concurso, não quero perder meu emprego. Não posso me meter com aluna nenhuma, você sabe disso muito bem, porque veio do Colégio Santana, que é muito rigoroso.

— Rigoroso demais; por isso, está às moscas - Regina fez um muxoxo que a deixava muito sedutora. - Nunca vi ninguém perder emprego por conta de fofoca. Devia ficar feliz porque lembram de seu nome e te acham bonitão. Sabe disso, não é? Não se faça de bobo.

Ele emudeceu, preocupadíssimo.  Combinara corrigir os textos dela para a revista, mas não sabia, então, em que estava se metendo. E quão falsa Carolina podia ser! Um choque e tanto! Tinha enrolado ele direitinho.  Ela tinha boas ideias, algumas avançadas demais, mas um péssimo português, todo mundo ia descobrir quem corrigira aqueles textos. Lógico, o Prof.de Literatura!

Foi quando o Prof. De Comunicação abriu a porta e viu aquele clima formado.

— Ora, ora, o que temos aqui, Prof. Bento? Discussão com minha melhor aluna?

Bento levantou-se rápido:

— Boa tarde, Prof. Rogério.  Estou deixando sua melhor aluna em suas mãos.  Este assunto de textos, editoras, etc. é mais de sua área, mesmo. OK? Ele vai ser muito mais útil que eu, acredite, Carolina.

E tratou de sair rápido dali, mas sem entregar a ela o último texto, picante demais para um colégio tradicional como aquele.

E lá ficou o prof. Rogério, um homem simpático e meio ingênuo, querendo agradar à turma nova.  Quando leu os textos, sabendo do que se tratava, quis cair fora também, mas já era tarde. Carolina o envolvera com seu belo sorriso e lhe afirmava que ninguém sabia quem fazia as correções, a graça daquela seção era o anonimato e podia-se falar de quem fosse, a não ser injúria moral, claro.

A expectativa agora, de todo mundo, seria a reação da turma àquela nova edição de uma seção que nascera com ótimas intenções, em tom de brincadeira, mas tinha tudo para acender fogueiras de incompreensões e intolerâncias.

E essas fogueiras eram bem difíceis de apagar.