Socorro - Adriana Frosoni e Yara Mourão

 


Socorro

Adriana Frosoni

Yara Mourão

 

Telma foi lançada através do para-brisa dianteiro do Corolla depois que foi forçada a frear bruscamente. Com o acidente, além de se cortar muito, bateu forte com a cabeça e perdeu completamente a memória.

O socorro não aparecia e ela começou a sentir algo escorrendo pela sua perna. Um dos cortes tinha sido muito profundo e o sangue estava se espalhando.

Tentou lembrar de tudo o que ouvira sobre como estancar uma hemorragia. Fazer um torniquete acima do corte, por exemplo. Mas uma ausência de memoria completa a impedia de agir, de se inteirar de fato do que ocorria. O sangue escorria junto com suas lagrimas amargas.

Criou coragem e seguiu de volta para a estrada onde havia iluminação. A perna doía muito, estava difícil de se movimentar, teve que ser muito corajosa, mas chegou. Apoiou-se em um toco de árvore para conseguir ficar de pé a acenar para pedir socorro.

Mas não passava ninguém e o desespero começou a tomar conta dela. Quando achou que ia desistir e se deixar morrer, uma luz surgiu na escuridão.

Acenou. A luz era intensa e quase a cegara. Mas vagarosamente, a proximidade deu-lhe esperança. Pararam. Ela se esforçou e chegou até junto aos enormes pneus. Era um caminhão. Trazia uma carga ruidosa. Pediu ajuda, e logo a puseram na cabine. Agradecida, só pode perguntar: “O que levam? “ E responderam: “Porcos, para serem abatidos.”

O sentimento de gratidão logo se tornou apreensão. Ela não podia se mover. Eles estavam em dois. Devia ter mais homens aguardando a carga. Sairia dessa carona pior do que já estava? Começou a tremer, a adrenalina aumentava a cada pensamento ruim.

Como entregar porcos para abater!! Que coisa horrível. Nunca tinha pensado nisso quando comia a carne. O que fazer? Tinha que procurar uma solução. De repente uma ideia lhe veio à cabeça apesar das lembranças não se concretizarem.

Perguntou ao motorista se ele tinha algo para comer pois ela tinha fome e sede. O bom homem não tinha nada, mas se ofereceu para parar no próximo posto. Boa ideia, ela pensou. O outro passageiro também gostou da ideia. Pararam. Os dois desceram e disseram que não demorariam.

Ela foi rápida. Esgueirou-se até a porta. Conseguiu descer, apesar de esbarrar em alguma coisa no painel. Já lá fora, escondida atrás do posto, pôde ver a traseira do caminhão se abrir e os porcos, um a um, caírem da carroceria. Ah! Foi isso então! Ela esbarrou na alavanca que regulava a caçamba, e os bichos se foram pela estrada escura!

Sem saber como resolver a bagunça que causara, voltou para perto do caminhão e se jogou no chão ao lado da porta do passageiro. Quando os homens chegaram com a comida e a bebida, ficaram espantados. Mas ela achou que a solução foi boa. Eles pensaram que ela havia desmaiado e, sem querer, aberto a porta e liberado os porcos, caindo no chão. Ficaram com medo de colocar as mãos nela, pois a queda da boleia fora alta, então chamaram a ambulância. Ela foi socorrida. Os porcos foram salvos.

 

 

 

Um comentário:

  1. Anônimo3/01/2023

    Oi Adriana
    Um conto singelo é também profundo. Mostra o medo que ronda nossa vida moderna e também como a criatividade soluciona acontecimentos que seriam talvez dramáticos, sem ela. Muito bom Adriana

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