O
Homem que desafiava o vento.
Yara
Brandão
Ele era um homem pequeno. Quase franzino. Mas tão autoconfiante que até
mesmo se achava forte.
Queria ser um herói.
Não temia os animais, as pessoas, nem o frio ou o sol forte. Mas tinha
um estranho fascínio pelo vento. O vento que era, assim, quase um adversário na
luta dos homens contra os elementos. Pra ele, era uma questão de ser o mais
ousado, o invencível nos espaços de seus domínios.
Tudo se deu no início de setembro, quando começava a temporada de tufões
e furacões, desde o Caribe até quase o Canadá. Sim, porque era no fim de uma
estação e início de outra, quando o clima se mostrava belo e agressivo e as
águas, terra e céus combinavam para surpreender os homens.
E poderia ter sido em qualquer lugar daquele imenso campo de batalha.
Entretanto, foi naquele vasto gramado, muito verde, que se estendia a perder de
vista, cheio de palmeiras, casas de madeira rodeadas de flores, parques, rios e
lagos. Ali era o coração da Flórida, lugar de grandes emoções.
Às primeiras rajadas ele mirou o horizonte: não havia dúvida. Esse era o
momento esperado. Sentiu, através de todos os poros, o fascínio pelo
desconhecido, pelo desafiador, o impulso do herói no campo de batalha.
Foi rápido. Correu muito. Abriu os braços e foi de encontro ao som, às
folhas voando, à nuvem densa. O vento era ora o inimigo a ser vencido ora o
companheiro de maratona.
Correu tanto, tanto. Por fim, se viu debaixo de uma pedra enorme, quase
sem forças, mas radiante pela disputa.
Conseguiu perceber que tudo havia caído, mudado de lugar, tudo estava
espalhado.
Mas ali, franzino, ofegante, ele sabia que vencera o vento.
E, sob a pedra, ele era, enfim, um herói adormecido.
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